sexta-feira, 29 de março de 2013

Paternidade irresponsável

A maternidade sempre esteve imposta à mulher, até que a ciência a libertou dessa obrigação. A paternidade  sempre foi controversa, até que a ciência permitiu, ao homem, a conquista de saber-se pai. Então, agora, homem e mulher estão em condições de igualdade. Podem decidir se querem ter filhos. Melhor o verbo no modo subjuntivo: poderiam decidir.

Muitos não decidem porque sequer pensam, agem segundo impulsos; e não assumem consequências. Usufruir a liberdade de decidir é para quem tem boa formação, senso de responsabilidade, caráter, dignidade, respeito ao próximo... E, ainda, há um fator indiscutível: nem todas as pessoas tem perfil para ser mãe, ou pai. Mas vivemos, ainda, resquícios da velha hipocrisia que crê em regras impositivas sobre o que seriam os papeis masculino e feminino, sobre um poder familiar inquestionável, automático,  na educação dos filhos sem que pai, mãe e responsáveis tenham sido, antes, devidamente educados por seus respectivos pais. Nada é automático e milagroso...

Compromisso com a educação de descendentes, em jornadas que vão durar pelo menos vinte anos, exige vontade, determinação, não é fruto de acaso, é preciso muito investimento. Os indivíduos, porém, são o que são, não cabem em moldes, não se ajustam a tolices românticas, propagadas, inadvertidamente, por religiões que ainda pregam o céu e o inferno, em futuro distante, enquanto as pessoas precisam de limites aqui e agora, precisam é se submeter à autoridade de leis... leis terrenas mesmo!

O reconhecimento de autoridades constituídas, seja no âmbito familiar (pai, mãe, responsável) ou fora dele (o Porteiro do Edifício, o Síndico do condomínio, o guarda de trânsito ou o Presidente da República), é o fator mais importante para o convívio em sociedade. Quando se aceita a autoridade de terceiros também são aceitas as regras que dela provém. E, se houver transgressão, o remédio é a punição, em graus variados, desde uma simples advertência, uma cobrança mais incisiva...

É um aprendizado a ser exercitado ainda no seio da família, logo nos primeiros anos de vida. E pouco importa se os responsáveis, na família, são um casal, dois homens, duas mulheres... se são tios, se são irmãos mais velhos... O que conta é se esse responsável assume, efetivamente, as próprias responsabilidades na tarefa de educar, cuidar... Se os casais tradicionais fossem definitivamente eficientes no papel que lhes cabe, não teríamos um verdadeiro surto de más condutas de crianças e jovens aterrorizando professores, em nossas escolas.

Então, ao invés de se contestar o pleiteado direito de gays à adoção, seria interessante discutir a omissão dos pais em geral na educação das nossas crianças. Quem não tem compromisso com a paternidade é que não merece ser pai. Afinal, como ensinou a Ministra Nancy Andrighi, na sentença em que condenou um pai a indenizar a filha por abandono afetivo, se amar  é faculdade  "cuidar é dever." 

Quanto mais falha é a família, maior responsabilidade recai sobre a escola...No entanto, a escola está "doente"... É o que conta o pesquisador Danilo Ferreira de Camargo, Historiador da USP, para quem o adoecimento dos profissionais da educação estaria sendo provocado pelas estruturas das escolas.

Estaríamos, então, em um beco sem saída?

É preciso educar para uma paternidade responsável. Alias,  o Estatuto da Criança e do adolescente faria melhor se definisse com clareza a responsabilidade que cabe aos pais na educação dos filhos e se estabelecesse punição nas omissões. Para tantos que falam em baixar a maior idade e em penalidades mais duras para o menor infrator, parecem se esquecer que pais omissos, preguiçosos, praticamente cúmplices,  é que são verdadeiramente responsáveis por essas vidas precocemente desviadas. 

Na quadra de esporte do meu condomínio, uma placa informa o uso restrito ao período de 8 às 22 horas... E mais, se houver outro condômino aguardando, o uso não poderá se estender por mais de 40 minutos. Adultos, jovens e crianças residentes precisam se submeter, claro. Todos precisam se entender e acatar, é assim em qualquer coletividade.

Por que, nas escolas, parece não existir acordo, entre todos os que dela dependem (pais, alunos, professores, comunidade), quanto à necessidade de se obedecer às regras e de acatar a autoridade dos educadores?  Há pais que ensinam aos filhos que o professor é um empregado, um serviçal remunerado pelas mensalidades que pagam, pelos impostos que recolhem ao Estado... É uma concepção onde o professor seria um subalterno, destituído de autoridade, não muito merecedor de respeito... E esses pais, mereceriam o quê, neste país em que um estudante universitário vale quase oito vezes mais que um estudante do ensino fundamental.?

Uma Diretora de escola municipal agredida a socos, no Rio de Janeiro

Em Santos, aluno agride professora por ter tirado nota baixa;

Mãe de aluno agride professora, em São paulo;

Aluno agride professor por ter sido repreendido, em Bauru e Marília - SP.

Sem ponto final...