sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Comentário infeliz

Infelizmente, há quem não se compadeça das vítimas do incêndio em Santa Maria. E, por incrível que pareça, essas pessoas se dizem religiosas mas se permitem expressar crueldade e absoluta falta de compaixão em comentários postados em notícias que tem sido veiculadas sobre o assunto. Vejam o comentário a seguir e, pasmem, quem postou se identificou tão convicta se acha da própria opinião:
"M. Dalva Soares: Quando a Igreja católica chama para as missas eles preferiram as boates e baladas noturnas... Agora se arrependem? ótimo que fique como exemplo para os demais... A igreja Católica Ajuda...instrui e educa... a escolha é de cada um... A vida é feita de escolhas... O que acontece de bom ou ruim em nossas vidas, nós escolhemos para nossas vidas.. Não temos o direito de cobrar nada de ninguém... A não ser de nossas escolhas, boas ou más...A vida é assim..."
SIMPLESMENTE NOJENTO!!!! Palavras satânicas!

Mas não é novidade, é assim que alguns "fundamentalistas" cristãos se comportam. E eu tenho arrepios de medo e repulsa dessa turma. São pessoas más, ao estilo Doroteia (da novela Gabriela). O perigo é retornarmos à Inquisição! Quando o menino João Hélio morreu, após ter sido arrastado na cadeirinha do carro da família, houve quem afirmasse que a culpa era dos pais porque, pouco antes de terem sido interceptados pelos bandidos, tinham acabado de sair de uma Casa Espírita. Pessoas que nutrem esse sentimento conseguem ser mais cruéis do que o próprio criminoso porque, por esse raciocínio tortuoso, justificam o ato condenando a vítima!

São Bento, São Jorge, valei-nos, livrai-nos dessa extrema ignorância!



Sempre se fez assim? Por que não fazer melhor?

Postei o texto  "Sempre se fez assim", para desabafar indignação por situação vivida no local de trabalho.
Relendo-o, percebo-o um tanto enigmático, muito pelo cuidado que tive em não expor fatos para não identificar pessoas.

Nunca havia sido tão constrangida, nunca havia me deparado com uma situação de trabalho em que as chefias e os servidores da casa, tidos por experientes, na verdade ignoravam o próprio ofício! O trabalho, que eu fizera com acerto, foi retido pela chefia para uma avaliação, digamos assim, mais cuidadosa, porque tudo foi condenado como se errado estivesse! Eu não fui informada sobre o que se passava e, ao longo de semanas, embora percebesse uma atmosfera estranha, não pude me defender senão pontualmente. Houve ocasiões em que levei "pito" e ouvi insinuações sobre a minha conduta que, para mim, soavam tão destituídas de significado, tão evasivas, que eu mal podia contestar. É que o nível de desinformação dessa chefia era tamanho que ela não conseguia dizer objetivamente o que estava errado.

Aos poucos, fui me inteirando dos problemas daquela administração e soube que o funcionário mais antigo, no setor, tinha somente quatro anos de casa e a chefia, apenas três! Compreendi que, o que pareceu inaceitável para a dita chefia era o fato de os meus conteúdos serem completamente diferentes do que era esperado por ela: eles utilizavam textos-padrão num trabalho de análise de prestação de contas de convênio e, para cada possível ocorrência de irregularidade, havia um texto pronto.  Aquela pessoa, então, trabalhava com respostas prontas e, frente às minhas respostas e conclusões, ditadas por uma experiência de décadas, se confundiu e não usou de bom senso, boa educação e, sobretudo, de humildade para solucionar o impasse que se criou.

Acredito que, quem quer que seja razoavelmente educado, saberá respeitar a experiência e o currículo de quem conta décadas de bons serviços. Logicamente, urbanidade e o trato respeitoso não combinam com posturas arrogantes que, muitas vezes, estão presentes em pessoas alçadas a algum nível de poder. Essas pessoas fecham seus ouvidos e capacidade de raciocínio. E nada os demove da própria prepotência.

Sabe-se que emoções mesquinhas são um desserviço a qualquer grande organização... Quantos de nós já não foi impedido de fazer um bom trabalho porque algum idiota sentiu-se melindrado, ferido, por não ser o autor da ideia? Claro que, na Administração Pública, ninguém está a salvo dessa circunstância. Então, essas emoções mesquinhas, muitas vezes, dominam o cenário. Principalmente quando o fator "política", na pior acepção que esse termo tenha, prepondere sobre o fator "administração", na essência do termo.

Uma das advertências que eu me lembro de ter recebido, que mais me surpreendeu, referiu-se à minha capacidade de redigir. A minha, então, chefe, por sinal uma professora de Português, por formação, me disse a seguinte frase enigmática: "Você escreve muito bem... mas...".  Mas, o quê? E, mais não me foi dito. Parece brincadeira. Mas não é.

Uma outra advertência, não menos surpreendente, foi reduzida  na frase "sempre se fez assim". O que estava em discussão? A minha recusa em aceitar, como regular, a rotina mantida por prefeituras que promoviam saques na boca do caixa para fazer pagamentos e que movimentavam os recursos do convênio para uma segunda conta bancária. O problema é que não havia um "texto padrão" da Casa que classificasse esse tipo de ocorrência como irregularidade. Eu, então, coletei acórdãos do Tribunal de Contas da União-TCU que condenavam esse procedimento para sustentar o meu entendimento... Tudo inútil.

Eu já estava "mal vista", apesar de comprovadamente qualificada ... E o pior, sem remuneração, depois de três meses de trabalho, já que os meus resultados, enquanto estivessem sob questionamento, não poderiam gerar pagamento. Então, optei pela saída. Fazer o quê?

Quem tem juízo e sabe o que faz não pode obedecer... não pode renegar o  próprio conhecimento e se submeter a comandos que se sustentem em argumentos do tipo "sempre se fez assim"...

O que me leva, agora, a retomar esse assunto é constatar que, depois das vidas ceifadas em Santa Maria, prefeituras e governos, pelo país a fora, desencadearam ações de fiscalização que deveriam ser rotina. De repente, servidores públicos desses setores estão em evidência... Nota-se, somente agora, a dimensão que tem esse trabalho para a segurança dos frequentadores de casas de diversão!


Conflitos de interesse, baixa qualificação, desconhecimento quanto ao próprio ofício, são inadmissíveis, podem custar a vida, os sonhos, de muitos, podem resultar em prejuízos milionários para toda a sociedade. Então, é fundamental examinar cuidadosamente o rol de atribuições dos servidores públicos de setores estratégicos e conhecer o regimento interno das respectivas repartições para: cobrar eficiência e seriedade, ao invés de reduzir as críticas a meras zombarias e piadinhas pejorativas em que o servidor público é tratado como palhaço.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Conflitos de interesses, e etc., na Administração Pública

A mídia, que busca o escândalo noticiando atos de corrupção, faria melhor se buscasse, também, conhecer o básico em administração pública e sobre a atuação do servidor público. Afinal, deveria ser um compromisso informar e reduzir distorções entre o fato e a versão que se publica. Muito pelo contrário: perseveram os estereótipos no trato desse tema; persevera a ridicularização do servidor público. Se alguns fazem por merecer e se outros são omissos e coniventes, os demais, incluindo o cidadão contribuinte, precisam conhecer melhor o assunto.

Embora os programas de humor, na TV, e a sociedade, em geral, desqualifiquem esse trabalho, a zoação nunca faz sentido tamanho é o desconhecimento das pessoas que escrevem esses infelizes textos de humor, haja vista o personagem "Lineuzinho" de "A grande família". A verdade, sempre ignorada, é que tarefas desempenhadas pelo servidor público, típicas da Administração Pública Federal, não têm paralelo no setor privado; por isso, requerem formação específica, muito especializada. E  a demanda, no setor privado, para esse perfil, quando ocorre, acaba por ensejar a  ocasião de se utilizar o conhecimento adquirido em prejuízo do cidadão: policiais em segurança privada, fiscais que assessoram os setores fiscalizados, etc., etc., etc. ...

Por isso, a zombaria a cerca da burocracia precisa ser substituída por uma discussão mais séria: que rotinas de segurança e controle poderiam ser suprimidas sem trazer prejuízo aos beneficiários dos serviços prestados pelo Estado? É admissível que servidores públicos sejam proprietários, ou empregados, de empresas privadas, principalmente aquelas que atuem no ramo onde desempenham suas funções? Estranhos à Administração Pública (terceirizados e etc) poderiam ter acesso aos sistemas informatizados que processam os atos de gestão pública (orçamento, contabilidade, pessoal, patrimônio, fiscalização, etc.)?

De cada vez que estoura um escândalo envolvendo o Governo Federal, quando quase tudo vai ao "ventilador", fatos estarrecedores vem à tona. Mas esses fatos não merecem a devida atenção; a mídia atém-se às consequências, ou seja, aos lucros auferidos pelos autores das façanhas. Mas, para quem conheça a Administração Pública, o mais surpreendente é constatar a tranquilidade com que regras são ignoradas por todos (Não só por quem rouba!) aqueles que teriam um papel a desempenhar no controle do setor "assaltado".

Exemplo: recentemente, durante as investigações da "Operação Porto Seguro", veio a público que advogados da união estariam exercendo a advocacia privada, inclusive com suspeita de advogarem contra a União! A Orientação Normativa nº 27/2009, da própria AGU, veda o exercício da advocacia privada aos seus advogados. O que teria acontecido, posteriormente? As explicações da AGU não parecem convincentes.

Agora mesmo, em Santa Maria, segundo a imprensa vem divulgando, uma empresa de propriedade de um bombeiro do municpio seria responsável pelo planejamento de combate a incêndio  da boate Kiss, onde aconteceu a tragédia que vitimou tantos jovens. Como seria possível justificar essa espécie de promiscuidade, onde a instituição responsável por fiscalizar o cumprimento das medidas de prevenção a incêndio, tem em seus quadros o dono de uma empresa privada que presta esse tipo de serviço? Não estaria claro o conflito de interesses?

domingo, 27 de janeiro de 2013

Um antídoto contra o apocalipse: investir no presente, preparar o futuro...

A jornalista Cora Ronai nos oferece interessante reflexão, em seu blog, sobre  "A história e os cheiros." , também publicado em sua coluna do Jornal "O Globo":
"Quando passeio por encantadoras cidades antigas, em que tudo parece cenário de filme de época, nunca me esqueço que, no tempo em que viveram seu auge, as noções de higiene eram bem diferentes das nossas. As ruazinhas estreitas que tanto me encantam eram melequentas e imundas. Bichos de todos os tipos circulavam entre as pessoas, de bodes e vacas a ratos e insetos; ninguém tomava banho; havia esgotos a céu aberto..."
Eu, que pouco saio da minha moderna cidade e que nada conheço do mundo, quando assisto os bem cuidados cenários de novelas de época e os vestuários femininos, tudo tão glamourizado, com tanto luxo, costumo, também, pensar no assunto: esse asseio, essa limpeza, em um tempo de condições higiênicas tão precárias, em que não havia sistema de água e esgoto... É tudo cenário, mesmo, tudo ilusão para hipnotizar, para manter o expectador ligado na imagem.

Em um tempo assim, sem luz elétrica, sem automóveis, sem cidades superpovoadas, a vida corria mais tranquila e, sem dúvida, havia uma certa beleza: apesar da ausência dos recursos trazidos pela ciência e pela  tecnologia, a população era muito menor, as pessoas não se acotovelavam nas moradias típicas de periferia dos grandes centros urbanos, as moradias  eram esparsas, os vizinhos distantes, o ar era mais puro... Mais tarde, os sinais do progresso trazido pela industrialização: a abolição da escravidão, o trabalho do imigrante, a urbanização e uma vida muito, muito mais complexa!

Comparar modos de vidas tão distantes é um recurso usado por estudiosos, por profissionais da ciência. A Ciência, porém, não busca resgatar, busca compreender. Aludir ao passado e pensar em trazê-lo de volta para  ressuscitar as ditas "ilibadas condutas de antigamente",  é coisa de gente ignorante; ou de pessoas mal intencionadas, daquelas que sempre existiram e que, entra século, sai século, lucram com a ignorância alheia.

Há quem compare o modo de vida atual com o período em que se viveu a decadência do Império Romano, chamando a atenção para a devassidão da época. Para essas pessoas, a queda é iminente, vivemos "dias de Sodoma e Gomorra", apregoam nos púlpitos de variadas igrejas... E aterrorizam os crédulos ouvintes que, intimidados e apostando em uma vindoura, "Ira Divina", permanecem refém desses maus pregadores, à espera do apocalipse. Dentre esses crédulos, quantos teriam estudado a história do Império Romano? Preguiçosos, preferem aderir ao discurso dos outros do que se dar ao trabalho de estudar. O Império Romano constituiu-se e sustentou-se a partir de guerras expansionistas, anexando territórios e escravizando as populações vencidas, chegando ao ponto em que a população escrava era numericamente superior a de homens livres...além de outras contradições de ordem política e econômica. Um modelo, em si mesmo, explosivo que, mais tarde ou mais cedo, se esgotaria.

E o que haveria de errado com este nosso "modelo", tão lamentado por falsos moralistas?  Estaria, o erro, na liberdade feminina, nas uniões homossexuais e nas novas famílias?

Na História da Humanidade, as questões econômicas é que foram as motoras de todas as transformações, responsáveis pelo declínio, pela hegemonia desta ou daquela civilização. Portanto, o erro, no presente, repete o passado pois o modelo que persiste baseia-se na expropriação da maioria em benefício de poucos: uma multidão vive a margem dos frutos da riqueza gerada pelo trabalho. No caso brasileiro, onde estão os investimentos em educação, se os resultados são pífios, quase invisíveis? Para onde vai a riqueza gerada pelo trabalho? Quantos políticos honram verdadeiramente o respectivo mandato? A tragédia desta madrugada, em Santa Maria, que poderia ter sido evitada se as autoridades locais tivessem cumprido com o próprio dever: aí está a imoralidade, a indecência, o pecado... Efeitos pirotécnicos sem atender a requisitos de segurança, em ambiente superlotado, tendo por saída uma única porta estreita...

Quanto às famílias, tradicionais ou modernas, continuam aí, na luta... Reiterando o post "Resgatar o quê?": os modelos de famílias, antigos ou modernos, não são os responsáveis por esse estado de coisas..."! Portanto, as igrejas, e as pessoas que as representem, precisam voltar suas "metralhadoras giratórias" para a ação dos políticos e não para a moral sexual dos indivíduos.