domingo, 27 de janeiro de 2013

Um antídoto contra o apocalipse: investir no presente, preparar o futuro...

A jornalista Cora Ronai nos oferece interessante reflexão, em seu blog, sobre  "A história e os cheiros." , também publicado em sua coluna do Jornal "O Globo":
"Quando passeio por encantadoras cidades antigas, em que tudo parece cenário de filme de época, nunca me esqueço que, no tempo em que viveram seu auge, as noções de higiene eram bem diferentes das nossas. As ruazinhas estreitas que tanto me encantam eram melequentas e imundas. Bichos de todos os tipos circulavam entre as pessoas, de bodes e vacas a ratos e insetos; ninguém tomava banho; havia esgotos a céu aberto..."
Eu, que pouco saio da minha moderna cidade e que nada conheço do mundo, quando assisto os bem cuidados cenários de novelas de época e os vestuários femininos, tudo tão glamourizado, com tanto luxo, costumo, também, pensar no assunto: esse asseio, essa limpeza, em um tempo de condições higiênicas tão precárias, em que não havia sistema de água e esgoto... É tudo cenário, mesmo, tudo ilusão para hipnotizar, para manter o expectador ligado na imagem.

Em um tempo assim, sem luz elétrica, sem automóveis, sem cidades superpovoadas, a vida corria mais tranquila e, sem dúvida, havia uma certa beleza: apesar da ausência dos recursos trazidos pela ciência e pela  tecnologia, a população era muito menor, as pessoas não se acotovelavam nas moradias típicas de periferia dos grandes centros urbanos, as moradias  eram esparsas, os vizinhos distantes, o ar era mais puro... Mais tarde, os sinais do progresso trazido pela industrialização: a abolição da escravidão, o trabalho do imigrante, a urbanização e uma vida muito, muito mais complexa!

Comparar modos de vidas tão distantes é um recurso usado por estudiosos, por profissionais da ciência. A Ciência, porém, não busca resgatar, busca compreender. Aludir ao passado e pensar em trazê-lo de volta para  ressuscitar as ditas "ilibadas condutas de antigamente",  é coisa de gente ignorante; ou de pessoas mal intencionadas, daquelas que sempre existiram e que, entra século, sai século, lucram com a ignorância alheia.

Há quem compare o modo de vida atual com o período em que se viveu a decadência do Império Romano, chamando a atenção para a devassidão da época. Para essas pessoas, a queda é iminente, vivemos "dias de Sodoma e Gomorra", apregoam nos púlpitos de variadas igrejas... E aterrorizam os crédulos ouvintes que, intimidados e apostando em uma vindoura, "Ira Divina", permanecem refém desses maus pregadores, à espera do apocalipse. Dentre esses crédulos, quantos teriam estudado a história do Império Romano? Preguiçosos, preferem aderir ao discurso dos outros do que se dar ao trabalho de estudar. O Império Romano constituiu-se e sustentou-se a partir de guerras expansionistas, anexando territórios e escravizando as populações vencidas, chegando ao ponto em que a população escrava era numericamente superior a de homens livres...além de outras contradições de ordem política e econômica. Um modelo, em si mesmo, explosivo que, mais tarde ou mais cedo, se esgotaria.

E o que haveria de errado com este nosso "modelo", tão lamentado por falsos moralistas?  Estaria, o erro, na liberdade feminina, nas uniões homossexuais e nas novas famílias?

Na História da Humanidade, as questões econômicas é que foram as motoras de todas as transformações, responsáveis pelo declínio, pela hegemonia desta ou daquela civilização. Portanto, o erro, no presente, repete o passado pois o modelo que persiste baseia-se na expropriação da maioria em benefício de poucos: uma multidão vive a margem dos frutos da riqueza gerada pelo trabalho. No caso brasileiro, onde estão os investimentos em educação, se os resultados são pífios, quase invisíveis? Para onde vai a riqueza gerada pelo trabalho? Quantos políticos honram verdadeiramente o respectivo mandato? A tragédia desta madrugada, em Santa Maria, que poderia ter sido evitada se as autoridades locais tivessem cumprido com o próprio dever: aí está a imoralidade, a indecência, o pecado... Efeitos pirotécnicos sem atender a requisitos de segurança, em ambiente superlotado, tendo por saída uma única porta estreita...

Quanto às famílias, tradicionais ou modernas, continuam aí, na luta... Reiterando o post "Resgatar o quê?": os modelos de famílias, antigos ou modernos, não são os responsáveis por esse estado de coisas..."! Portanto, as igrejas, e as pessoas que as representem, precisam voltar suas "metralhadoras giratórias" para a ação dos políticos e não para a moral sexual dos indivíduos.

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