terça-feira, 24 de abril de 2012

Sobra tecnologia, falta comprometimento, falta gerência....

"O acesso a “toda e qualquer informação” não substitui a competência prévia para saber qual informação procurar e que uso fazer desta...” (Dominique Wolton). Essa frase diz muito, embora não indique rumos e soluções, apenas provoca, enquanto a máxima "sempre se fez assim", induz à crença de que tudo está como deve ser, não admite provocação, discussão, é o conservadorismo, é a imobilização.

O que faltaria a um ambiente de repartição pública onde o lema fosse "sempre se fez assim"? Mais tecnologia, mais sistemas informatizados?

Em postagem anterior, Corruptos x servidores públicos, arrisquei identificar o que falta: "Falta o essencial, ao exército de servidores públicos, que tem acesso a um padrão de vida inacessível à maioria da população brasileira. Falta o que sobra aos corruptos: ambição e garra. Corruptos atropelam as necessidades da sociedade em que se acham inseridos porque são incontentáveis em suas metas pessoais. Já o exército de servidores públicos, satisfeitos na mediocridade, não ousam exercer o próprio ofício para construir um estado mais justo, que utilize os impostos que arrecada na prestação de serviços de qualidade. O servidor público, apesar de tantos concursos, tantos anos de estudo, tornou-se um alienado."

Arrisquei, também, identificar uma espécie de torpor (ou seria temor?) que estaria imobilizando, inexplicavelmente, esse contingente de profissionais: "...Nas empresas privadas, que demitem quando querem, há espaço para discussão, para a discordância. E na repartição pública? Não haveria? Todos estariam obrigados a compactuar com deslizes e descuidos que abrem portas para o ladrão do dinheiro público?

Sempre se fez assim exclui a "competência prévia para saber qual informação procurar e que uso fazer desta". Não há sistema informatizado, não há tecnologia capaz de de dar cabo de tarefas e atribuições onde os "pensantes" repudiem o ato de pensar. Vale enunciar o óbvio: tecnologias, por mais sofisticadas, não excluem a intervenção de seres humanos dotados de raciocínio.

A tecnologia abunda; e a imbecilidade, idem. E a administração? Afunda.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

"Sempre se fez assim..."

Ao nascermos, encontramos um mundo pronto para ser usufruído, construído por nossos ancestrais. Não começaremos nada do zero, tudo nos será transmitido, por nossos pais, familiares e professores, na experiência que identificamos como "processo ensino-aprendizagem".

Obviamente, não reinventaremos a roda. E, obviamente, não poderíamos ignorar o conhecimento de gerações que se profissionalizaram antes de nós, sob pena de mergulharmos no nada, literalmente. Essa constatação, completamente verdadeira, mostra como é pouco razoável a arrogância de quem se recusa a ouvir aqueles que conhecem o próprio ofício há décadas.

É incrível ouvir pessoas jovens, recém chegadas a uma grande organização dizendo "Aqui, sempre se fez assim". Sempre, desde quando? Exatamente em que momento e por que razões se escolheu "fazer assim"?

A trajetória de uma grande empresa, de uma grande e complexa estrutura se mede em décadas, em séculos. Alias, quando foi fundado o Estado Brasileiro? Em quantos séculos se constrói um estado democrático? Qual a idade de algumas normas que regulam certos setores da vida nacional?

A expressão "sempre se fez assim", não faz o menor sentido, em nenhuma circunstância. Ao contrário, tudo está, sempre, em construção, continuamente, um movimento desencadeando o outro, uma mudança amarrando a próxima... Se há lacunas, são apenas aparentes, significa que os atores de um determinado cenário deixaram de estudar o próprio texto e o respectivo contexto. Ou seja, a lacuna é na capacitação de profissionais que, no entanto, se julgam aptos e não admitem a própria desinformação.

E, não há dúvida de que, nesse vácuo, as sementes da ignorância frutificarão equívocos de difícil reparação, prejuízos para coletividades, prejuízos para o cidadão... ou prejuízos para o patrão.

No entanto, se vivemos na sociedade da informação, se tudo está escrito, se todas as experiências estão registradas, por que não buscar respostas mais adequadas e elaboradas do que, simplesmente, afirmar "sempre se fez assim"? Bastaria usar a capacidade de pensar, de questionar... Basta, hoje em dia, acionar um botão e um sistema de buscas virtual indicará várias possibilidades.... E, sobretudo, por que não ouvir quem conhece o tema? A arrogância não permite.

Assim como tem gente que acha bonito ser feio, tem gente que se acha "tudo", completo, repleto, sem espaço para aprender porque "sempre se fez assim.".

"Sempre se fez assim" pertence à categoria das "palavrinhas mágicas", ao estilo "abracadabra", permite encerrar qualquer discussão e "resolver", sem conflito, problemas de gamas as mais variadas. É a clássica postura de quem espera segurança edificando em alicerces de areia: um dia, a casa cai.

Lembrando o cientista político francês Dominique Wolton: “O acesso a “toda e qualquer informação” não substitui a competência prévia, para saber qual informação procurar e que uso fazer desta...”.

Não se espera, de profissionais qualificados, que se limitem em falso conforto, renunciando à busca e ao raciocínio lógico. Esse exercício pode ser difícil, trabalhoso, mas é saudável e necessário. Afinal, esse exercício justificaria a remuneração que esperamos receber, a cada jornada de trabalho.