sábado, 10 de dezembro de 2011

Acarajé ou "bolinho de Cristo"? Conversão ou subversão?


Encerrei uma postagem (de 28/11) com uma crítica aos advogados do setor público; e às denominadas "medidas protelatórias" que adiam, indefinidamente, o desfecho de milhares de ações, impedindo, na prática, que os reclamantes tenham efetivo acesso à Justiça. A questão é que o advogado do setor público acaba funcionando como o advogado criminal que, mesmo sabendo que seu cliente é culpado, busca artifícios de modo a inocentá-lo, ou de modo a adiar a aplicação da pena.

O que restaria àqueles que buscam reparação pelos danos sofridos? Esperar pela Justiça Divina?
Não é correto atribuir a Deus a administração das coisas deste mundo. O resultado das ações humanas, boas ou más, precisa ser creditado aos próprios humanos. Melhorar o que não é satisfatório depende de cada um. E de muito investimento em educação de qualidade. A que temos, a julgar pelas últimas avaliações do MEC, é péssima. E todos enfrentamos as consequências dessa precariedade, expostas de maneira bastante dramática, desde auxiliares de enfermagem que provocam a morte de pacientes, por erros grosseiros, a motoristas bêbados que matam, e às vezes morrem, no trânsito.

Se a educação vai mal, igrejas que se dizem "de Deus", ou "de Cristo" poderiam, pelo menos, não explorar a ignorância do povo. Lamentavelmente, há igrejas zombando, debochando de fiéis menos inteligentes e mais desamparados: em Salvador-BA, uma subversão se instalou e baianas do acarajé, assim conhecidas, justamente, por vender a iguaria que seus ancestrais trouxeram da África, estão rebatizando o acarajé de "bolinho de Jesus", ou "bolinho de Cristo".  Existiria situação mais ridícula? Parece brincadeira mas, infelizmente, não é.

É que as baianas, convertidas a igrejas evangélicas, são induzidas a abandonar seus trajes, seus colares, e, até,  a rebatizar a iguaria cuja tradição tem origem no Candomblé, há mais de trezentos anos . Um povo que rejeita a própria cultura, que destrói imagens e adereços de outros cultos, onde chegará?  E o respeito às diversidades, às liberdades, para onde vai? Conversão ou subversão?

Polaridades: quanto mais... quanto menos...

Dois lados da mesma moeda:

Quanto menos educado um povo, mais vulnerável a um messianismo qualquer de um charlatão qualquer...
Quanto menos informados, carentes, vazios são os indivíduos, mais sensíveis a promessas de qualquer natureza;
Quanto mais estreitos os horizontes, menor a  resistência a dificuldades corriqueiras;
Quanto menor o repertório de alternativas, maior a aceitação de saídas pouco dignas;

Quanto mais, quanto menos, situam-se em uma espécie de corda bamba, onde parceiros buscam um pseudo-equilíbrio: o estelionatário e a vítima; vivem em simbiose, alimentam-se mutuamente, dois lados da mesma moeda, opostos que se complementam, feitos um para o outro.

A educação, onde não há espaços para maniqueísmos, pode romper esse ciclo doentio e resgatar "vítima" e criminoso.

Maniqueísmo não é sinônimo de polaridade. A polaridade consiste em enxergar aquilo que está em oposição, como complementar (noite e dia, claro e escuro, frio e quente...) O maniqueísmo, antiga religião Persa fundada por Manes, no século III, enxerga um mundo dividido entre bem e mal. Embora essa antiga religião tenha sido considerada herética, essa visão tem contaminado, sempre, a prática do cristianismo.

No entanto, um pouco de reflexão e, logo, se percebe o engano. O problema é que não somos muito dados à reflexão. E mergulhamos de cabeça no maniqueísmo. E nem lembramos de meditar sobre a "Palavra": Não julgueis para não serdes julgados; com a mesma medida que medirdes medir-vos-ei; quem não tem pecado que atire a primeira pedra... Essas parábolas são a referencia para quantos se digam cristãos, para que compreendam que o mundo não está dividido entre bem e mal.

Muitas igrejas insistem na divisão; porque a segregação  é conveniente aos interesses que defendem, porque, assim, esperam arrebanhar um número maior de fiéis; e as pessoas vão para a igreja e acreditam que, ali estando, passam a integrar a categoria dos bons...Os maus estão lá fora, são os praticantes das outras religiões, são os que não tem religião, são os ateus...São os que optam por viver com mais liberdade, principalmente no terreno sexual, casando, descasando, casando com pessoas do mesmo sexo, fazendo sexo fora do casamento...

Enquanto isso, os "maus" fazem a festa, sem que se saiba onde eles estão: dentro ou fora das igrejas? Dentro e fora das igrejas?
Quem adere a uma igreja visando recompensas materiais, daquelas que são prometidas em púlpitos por aí a fora, ao estilo toma lá, dá cá, seria vítima? Não seria uma espécie de chantagista tentando "comprar" os favores de Deus?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"Mateus15:11": analfabetos funcionais entenderiam?

A escolaridade das mães influencia no desempenho escolar dos filhosa escolaridade das mães influencia na saúde dos filhos. São constatações importantes de pesquisas realizadas no âmbito do Governo Federal.
Não conheço pesquisa que associe saúde e desempenho escolar dos filhos à adesão das mães a essa ou àquela religião. Mães que são constantes em rotinas religiosas (que, inclusive, ofertem o dízimo) porém com baixa escolaridade, conseguiriam cuidar melhor de suas famílias?

Cuidar melhor de si e dos outros requer conhecimento, informação.

O texto bíblico oferece conteúdo, por si só, que permita a um fiel aprender regras básicas de higiene e saúde aplicáveis aos dias correntes? Aliás, até que ponto um indivíduo com baixa escolaridade consegue usufruir, com proveito, os ensinamentos bíblicos?

Há uma passagem muito própria, contemporânea, ilustrativa, não importam os dois mil anos passados: "O que entra pela boca não contamina o homem, mas o que sai da boca, isso é que contamina ... O que entra pela boca, desce ao ventre, baixa à terra... O que sai, procede do coração e é isso o que contamina...Do coração procedem os maus sentimentos, os homicídios, o adultério...os furtos..." São essas coisas que contaminam o homem, mas o comer sem lavar as mãos, isso não o contamina (Mateus, 15, 11 a 20).

Em um pais de milhões de analfabetos funcionais, quantos estariam em condições de compreender o maravilhoso significado dessas milenares palavras, sem deixar de lavar as mãos e "lavando", porém, o coração?

As igrejas não oferecem aos fiéis educação religiosa eficaz. Se o fizessem, os resultados seriam visíveis, afastando a tão falada "ausência de Deus", usada pelos crentes para explicar a violência. Talvez porque, analogamente aos maus políticos, não lhes interesse educar. Afinal, educar liberta, pode ser um tiro no pé... Vai que o fiel resolve mudar de igreja, abandonar a igreja, deixar de dar o dízimo...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Que tal avaliar o desempenho das igrejas?

É difícil praticar os ensinamentos cristãos, adotá-los no dia a dia. O caminho requer adesão consciente, atenção, disciplina, a cada momento, em cada impasse. E não prescinde do atendimento de necessidades básicas de saúde, educação e habitação, porque, afinal, vivemos no mundo da matéria. Será que os pregadores tratam o assunto com esse enfoque? Prometem e prometem, sobretudo prosperidade...Riquezas a serem auferidas em futuro próximo,  recompensa pelo que, de antemão, já se tenha doado em dízimos, seja em espécie, seja em bens.

O indivíduo, com poucos horizontes e poucas perspectivas de obter, com o fruto do próprio trabalho, os bens básicos necessários à vida, vira refém dessas promessas. Essa imensa parcela da população, parodoxalmente,  mostra do que é capaz: é com a doação dessas multidões que as igrejas mais poderosas vem construindo verdadeiros impérios. A fé dessas pessoas, efetivamente, traz resultados espantosos.

Uma dessas igrejas logrou, em pouco mais de 10 anos, abrir quatro mil e quinhentos templos. É um fenômeno digno de estudos sociológicos...E o empreendedorismo dos líderes dessas igrejas também merece ser investigado, examinado... Ainda que desfrutem de isenções fiscais que são vedadas aos demais mortais, trata-se de um grande feito porque esses líderes demonstram capacidade de gerenciar muito bem as fortunas que arrecadam.

Está visto, porém, que se trata de assunto pertencente ao plano da matéria e que o apelo espiritual  é, meramente, um recurso de marketing dirigido às massas, verdadeiras responsáveis pela construção desse imenso patrimônio.

As massas, porém, permanecem alijadas dos resultados auferidos, nada lhes é devolvido. Ficarão, eternamente, a espera dos milagres prometidos pela pregação. Com exceção: há pessoas que, por si mesmo, colocando os recursos de suas personalidades, lograrão algum sucesso material. E depositarão, aos pés do templo, parte de seus resultados. E quanto ao resultado espiritual? Será que existe? Essas pessoas, se pudessem ser avaliadas (da mesma forma que o Ministério da Educação avalia os estudantes), o que revelariam, em conduta moral e ética? Será que suas igrejas ganhariam o conceito 5? Do que precisamos, afinal, mais templos ou mais escolas?

domingo, 4 de dezembro de 2011

Mais templos ou mais escolas?

Há pessoas que atribuem o incremento da violência, nos dias presentes, à ausência de Deus na vida dos infratores. Numa visão simplificada, parecem acreditar que a adesão maciça à igreja que frequentam resultaria em transformação dos indivíduos e da nação. Pronto! Eis a solução ao alcance dos, ainda, ausentes, venham e depositem, aqui, suas expectativas...

Esses "ausentes", indecisos ou incrédulos convictos, tem à sua disposição milhares de templos , de variadas denominações. Das pentecostais: 13000 da Igreja Universal do Reino de Deus (a maior delas), 7.500 da Igreja do Evangelho Quadrangular, 4700 da Congregação Cristã do Brasil, 4600 da Igreja Brasil para Cristo, 4300 da Igreja Pentecostal Deus e Amor, 4.500, da Igreja Mundial do Poder de Deus, além de milhares de outras denominações de menor expressão e de nomes bizarros (Igreja Eu Sou a Porta, Bola de Neve, Automotiva do Fogo Sagrado, etc). E seguem as igrejas protestantes históricas: Batista, Luterana, Anglicana, Presbiteriana, Metodista, Adventista, e outras.

E a Igreja Católica? Há pouca informação no Google, mas seriam 8600 paróquias.

Quanto ao espiritismo kardecista e as religiões de origem africana, não fazem proselitismo, ou seja, não se vê, por aí, um espírita ou candomblecista fazendo o discurso da conversão ou reivindicando ser a "solução geral da moral individual", assim, magicamente, milagrosamente...

O fato é que, somente com os números identificados, já se ultrapassa os quarenta mil templos espalhados pelo Brasil, ou seja um templo para cada grupo de 4.466 brasileiros.

150000 fiéis já teriam lugar garantido na Igreja Mundial do Poder de Deus , em nova sede com capacidade superior a do Maracanã.

Conclusão: com tantos templos se multiplicando, a cada dia, se a pregação fosse eficaz, a criminalidade já não estaria em declínio?