sábado, 10 de dezembro de 2011

Acarajé ou "bolinho de Cristo"? Conversão ou subversão?


Encerrei uma postagem (de 28/11) com uma crítica aos advogados do setor público; e às denominadas "medidas protelatórias" que adiam, indefinidamente, o desfecho de milhares de ações, impedindo, na prática, que os reclamantes tenham efetivo acesso à Justiça. A questão é que o advogado do setor público acaba funcionando como o advogado criminal que, mesmo sabendo que seu cliente é culpado, busca artifícios de modo a inocentá-lo, ou de modo a adiar a aplicação da pena.

O que restaria àqueles que buscam reparação pelos danos sofridos? Esperar pela Justiça Divina?
Não é correto atribuir a Deus a administração das coisas deste mundo. O resultado das ações humanas, boas ou más, precisa ser creditado aos próprios humanos. Melhorar o que não é satisfatório depende de cada um. E de muito investimento em educação de qualidade. A que temos, a julgar pelas últimas avaliações do MEC, é péssima. E todos enfrentamos as consequências dessa precariedade, expostas de maneira bastante dramática, desde auxiliares de enfermagem que provocam a morte de pacientes, por erros grosseiros, a motoristas bêbados que matam, e às vezes morrem, no trânsito.

Se a educação vai mal, igrejas que se dizem "de Deus", ou "de Cristo" poderiam, pelo menos, não explorar a ignorância do povo. Lamentavelmente, há igrejas zombando, debochando de fiéis menos inteligentes e mais desamparados: em Salvador-BA, uma subversão se instalou e baianas do acarajé, assim conhecidas, justamente, por vender a iguaria que seus ancestrais trouxeram da África, estão rebatizando o acarajé de "bolinho de Jesus", ou "bolinho de Cristo".  Existiria situação mais ridícula? Parece brincadeira mas, infelizmente, não é.

É que as baianas, convertidas a igrejas evangélicas, são induzidas a abandonar seus trajes, seus colares, e, até,  a rebatizar a iguaria cuja tradição tem origem no Candomblé, há mais de trezentos anos . Um povo que rejeita a própria cultura, que destrói imagens e adereços de outros cultos, onde chegará?  E o respeito às diversidades, às liberdades, para onde vai? Conversão ou subversão?

Polaridades: quanto mais... quanto menos...

Dois lados da mesma moeda:

Quanto menos educado um povo, mais vulnerável a um messianismo qualquer de um charlatão qualquer...
Quanto menos informados, carentes, vazios são os indivíduos, mais sensíveis a promessas de qualquer natureza;
Quanto mais estreitos os horizontes, menor a  resistência a dificuldades corriqueiras;
Quanto menor o repertório de alternativas, maior a aceitação de saídas pouco dignas;

Quanto mais, quanto menos, situam-se em uma espécie de corda bamba, onde parceiros buscam um pseudo-equilíbrio: o estelionatário e a vítima; vivem em simbiose, alimentam-se mutuamente, dois lados da mesma moeda, opostos que se complementam, feitos um para o outro.

A educação, onde não há espaços para maniqueísmos, pode romper esse ciclo doentio e resgatar "vítima" e criminoso.

Maniqueísmo não é sinônimo de polaridade. A polaridade consiste em enxergar aquilo que está em oposição, como complementar (noite e dia, claro e escuro, frio e quente...) O maniqueísmo, antiga religião Persa fundada por Manes, no século III, enxerga um mundo dividido entre bem e mal. Embora essa antiga religião tenha sido considerada herética, essa visão tem contaminado, sempre, a prática do cristianismo.

No entanto, um pouco de reflexão e, logo, se percebe o engano. O problema é que não somos muito dados à reflexão. E mergulhamos de cabeça no maniqueísmo. E nem lembramos de meditar sobre a "Palavra": Não julgueis para não serdes julgados; com a mesma medida que medirdes medir-vos-ei; quem não tem pecado que atire a primeira pedra... Essas parábolas são a referencia para quantos se digam cristãos, para que compreendam que o mundo não está dividido entre bem e mal.

Muitas igrejas insistem na divisão; porque a segregação  é conveniente aos interesses que defendem, porque, assim, esperam arrebanhar um número maior de fiéis; e as pessoas vão para a igreja e acreditam que, ali estando, passam a integrar a categoria dos bons...Os maus estão lá fora, são os praticantes das outras religiões, são os que não tem religião, são os ateus...São os que optam por viver com mais liberdade, principalmente no terreno sexual, casando, descasando, casando com pessoas do mesmo sexo, fazendo sexo fora do casamento...

Enquanto isso, os "maus" fazem a festa, sem que se saiba onde eles estão: dentro ou fora das igrejas? Dentro e fora das igrejas?
Quem adere a uma igreja visando recompensas materiais, daquelas que são prometidas em púlpitos por aí a fora, ao estilo toma lá, dá cá, seria vítima? Não seria uma espécie de chantagista tentando "comprar" os favores de Deus?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"Mateus15:11": analfabetos funcionais entenderiam?

A escolaridade das mães influencia no desempenho escolar dos filhosa escolaridade das mães influencia na saúde dos filhos. São constatações importantes de pesquisas realizadas no âmbito do Governo Federal.
Não conheço pesquisa que associe saúde e desempenho escolar dos filhos à adesão das mães a essa ou àquela religião. Mães que são constantes em rotinas religiosas (que, inclusive, ofertem o dízimo) porém com baixa escolaridade, conseguiriam cuidar melhor de suas famílias?

Cuidar melhor de si e dos outros requer conhecimento, informação.

O texto bíblico oferece conteúdo, por si só, que permita a um fiel aprender regras básicas de higiene e saúde aplicáveis aos dias correntes? Aliás, até que ponto um indivíduo com baixa escolaridade consegue usufruir, com proveito, os ensinamentos bíblicos?

Há uma passagem muito própria, contemporânea, ilustrativa, não importam os dois mil anos passados: "O que entra pela boca não contamina o homem, mas o que sai da boca, isso é que contamina ... O que entra pela boca, desce ao ventre, baixa à terra... O que sai, procede do coração e é isso o que contamina...Do coração procedem os maus sentimentos, os homicídios, o adultério...os furtos..." São essas coisas que contaminam o homem, mas o comer sem lavar as mãos, isso não o contamina (Mateus, 15, 11 a 20).

Em um pais de milhões de analfabetos funcionais, quantos estariam em condições de compreender o maravilhoso significado dessas milenares palavras, sem deixar de lavar as mãos e "lavando", porém, o coração?

As igrejas não oferecem aos fiéis educação religiosa eficaz. Se o fizessem, os resultados seriam visíveis, afastando a tão falada "ausência de Deus", usada pelos crentes para explicar a violência. Talvez porque, analogamente aos maus políticos, não lhes interesse educar. Afinal, educar liberta, pode ser um tiro no pé... Vai que o fiel resolve mudar de igreja, abandonar a igreja, deixar de dar o dízimo...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Que tal avaliar o desempenho das igrejas?

É difícil praticar os ensinamentos cristãos, adotá-los no dia a dia. O caminho requer adesão consciente, atenção, disciplina, a cada momento, em cada impasse. E não prescinde do atendimento de necessidades básicas de saúde, educação e habitação, porque, afinal, vivemos no mundo da matéria. Será que os pregadores tratam o assunto com esse enfoque? Prometem e prometem, sobretudo prosperidade...Riquezas a serem auferidas em futuro próximo,  recompensa pelo que, de antemão, já se tenha doado em dízimos, seja em espécie, seja em bens.

O indivíduo, com poucos horizontes e poucas perspectivas de obter, com o fruto do próprio trabalho, os bens básicos necessários à vida, vira refém dessas promessas. Essa imensa parcela da população, parodoxalmente,  mostra do que é capaz: é com a doação dessas multidões que as igrejas mais poderosas vem construindo verdadeiros impérios. A fé dessas pessoas, efetivamente, traz resultados espantosos.

Uma dessas igrejas logrou, em pouco mais de 10 anos, abrir quatro mil e quinhentos templos. É um fenômeno digno de estudos sociológicos...E o empreendedorismo dos líderes dessas igrejas também merece ser investigado, examinado... Ainda que desfrutem de isenções fiscais que são vedadas aos demais mortais, trata-se de um grande feito porque esses líderes demonstram capacidade de gerenciar muito bem as fortunas que arrecadam.

Está visto, porém, que se trata de assunto pertencente ao plano da matéria e que o apelo espiritual  é, meramente, um recurso de marketing dirigido às massas, verdadeiras responsáveis pela construção desse imenso patrimônio.

As massas, porém, permanecem alijadas dos resultados auferidos, nada lhes é devolvido. Ficarão, eternamente, a espera dos milagres prometidos pela pregação. Com exceção: há pessoas que, por si mesmo, colocando os recursos de suas personalidades, lograrão algum sucesso material. E depositarão, aos pés do templo, parte de seus resultados. E quanto ao resultado espiritual? Será que existe? Essas pessoas, se pudessem ser avaliadas (da mesma forma que o Ministério da Educação avalia os estudantes), o que revelariam, em conduta moral e ética? Será que suas igrejas ganhariam o conceito 5? Do que precisamos, afinal, mais templos ou mais escolas?

domingo, 4 de dezembro de 2011

Mais templos ou mais escolas?

Há pessoas que atribuem o incremento da violência, nos dias presentes, à ausência de Deus na vida dos infratores. Numa visão simplificada, parecem acreditar que a adesão maciça à igreja que frequentam resultaria em transformação dos indivíduos e da nação. Pronto! Eis a solução ao alcance dos, ainda, ausentes, venham e depositem, aqui, suas expectativas...

Esses "ausentes", indecisos ou incrédulos convictos, tem à sua disposição milhares de templos , de variadas denominações. Das pentecostais: 13000 da Igreja Universal do Reino de Deus (a maior delas), 7.500 da Igreja do Evangelho Quadrangular, 4700 da Congregação Cristã do Brasil, 4600 da Igreja Brasil para Cristo, 4300 da Igreja Pentecostal Deus e Amor, 4.500, da Igreja Mundial do Poder de Deus, além de milhares de outras denominações de menor expressão e de nomes bizarros (Igreja Eu Sou a Porta, Bola de Neve, Automotiva do Fogo Sagrado, etc). E seguem as igrejas protestantes históricas: Batista, Luterana, Anglicana, Presbiteriana, Metodista, Adventista, e outras.

E a Igreja Católica? Há pouca informação no Google, mas seriam 8600 paróquias.

Quanto ao espiritismo kardecista e as religiões de origem africana, não fazem proselitismo, ou seja, não se vê, por aí, um espírita ou candomblecista fazendo o discurso da conversão ou reivindicando ser a "solução geral da moral individual", assim, magicamente, milagrosamente...

O fato é que, somente com os números identificados, já se ultrapassa os quarenta mil templos espalhados pelo Brasil, ou seja um templo para cada grupo de 4.466 brasileiros.

150000 fiéis já teriam lugar garantido na Igreja Mundial do Poder de Deus , em nova sede com capacidade superior a do Maracanã.

Conclusão: com tantos templos se multiplicando, a cada dia, se a pregação fosse eficaz, a criminalidade já não estaria em declínio?

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Onde buscar socorro? Mateus, 5, 20

Se a justiça, no Brasil, tarda e falha e se a União comporta-se como litigante de má fé, o que nos resta?
"Mateus, 5,20: Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no reino dos céus."

Eis a verdadeira e inquestionável justiça, largamente exemplificada em todo o discurso de Cristo, até o último versículo do capítulo 5 ("Sede, pois perfeitos, como é perfeito o vosso pai que está nos céus").

A aplicação dessa visão de justiça dispensaria qualquer reparação pois, de antemão, tudo estaria em perfeita harmonia. Se cada indivíduo, seguindo naturalmente os preceitos do capítulo 5, se abstivesse de prejudicar os outros, estaríamos a um passo da educação perfeita. E os Advogados, juízes, mediadores e toda a categoria de atividades policiais tenderiam a desaparecer uma vez que todos se comportassem civilizadamente.

Como tantas outras profissões que foram suprimidas pela automação, pela revolução industrial e tecnológica,  carreiras com perfil de repressão ou de correição encolheriam, perderiam importância e prestígio e, por fim, a razão de existir. Em contrapartida, profissões ligadas à educação ganhariam  reconhecimento e remuneração compatível.

Hoje, quando as manchetes que reportam o tráfico de drogas e a corrupção, na esfera pública, monopolizam os espaços da mídia e mobilizam a atenção da sociedade, é compreensível que as carreiras do mundo jurídico, e a de policial federal, sejam a aspiração dos que buscam status e salários mais altos. Afinal, quanto mais bandidos audaciosos em ação, maior a necessidade desses profissionais, para investigar, prender, julgar, punir.

Mas é preciso quebrar esse ciclo perigoso ou, logo, estaremos divididos entre, bandidos de um lado e advogados e policiais de outro. Bastaria aplicar os preceitos de Mateus, 5,  antídoto perfeito para todos os vícios e defeitos de caráter. E colocar a educação em primeiríssimo plano, sempre nas mãos de professores, é claro... Religiosos pregam, não educam (e, alguns, sequer estão aptos a pregar) salvo quando tem formação de educadores.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Litigância de má fé

O Código de Processo Civil define como litigância de má fé a conduta pela qual se busca frustrar o curso da justiça, por meio de vários artifícios, todos relacionados no Art. 17. Um desses artifícios é, reiteradamente, usado para postergar o desfecho de ações movidas por servidores públicos contra a União: são recursos, embargos (ou lá o nome que tenha a  peça jurídica) construídos habilmente com o objetivo de rechaçar o direito dos reclamantes, obrigando o trânsito da ação em todas as instâncias, até o Supremo Tribunal Federal. Há, até, aquelas ações que, mesmo tendo ultrapassado todas essas barreiras ( "trânsito em julgado"), não resultam em pagamento do que é devido. É que, na fase de pagamento, novos processos são abertos para que a União cumpra com a obrigação. E acontece o inacreditável: esses processos passam a ser questionados, ora pela Advocacia Geral da União- AGU, ora pela própria Justiça; não pelo mérito, que já foi julgado, mas por bobagens burocráticas.

Meu irmão, professor de educação física de uma instituição federal,  ajuizou ação contra a União no ano de 1994. Ganhou, em 1999, adoeceu em 2005; utilizou a prerrogativa legal que determina a agilização do pagamento a portadores de câncer e de outras doenças que trazem risco de morte; inutilmente pois decorridos 6 anos de sua morte, seu filho, ainda menor de idade, e a viúva,  não receberam um centavo. E ninguém explica, satisfatoriamente, as razões pelas quais esses pagamentos não são realizados. Mesmo os pequenos valores, que deveriam ser pagos imediatamente uma vez que não são passíveis de inscrição em precatórios, não o são.

O Estado Brasileiro deixa de satisfazer obrigações irrefutáveis, já reconhecidas pela justiça. Paralelamente, seus representantes são lenientes com atos de corrupção praticados dentro da máquina federal.

É um estado que se serve da Justiça para oprimir o cidadão. Não pode ser classificado como um Estado de Direito, um Estado Democrático. Aqui, a justiça tarda e falha..

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Justiça: tarda e falha

Incrível  que o próprio Poder Público retarde a ação da Justiça, com intermináveis recursos e embargos, impetrados pela Advocacia Geral da União, e congêneres dos estados e do DF, até a última instância.

Ora, o Direito Administrativo obriga a que o administrador público reveja seus atos para corrigi-los. Aliás, qualquer um de nós, na vida particular, quando erra e assume, trata de consertar. Por que não o Estado?

O Estado também é responsável por abarrotar a Justiça e, em certa medida, mais do que as operadoras de TELECOM pois, embora, estas, sejam apontadas como vencedoras nesse horrível ranking, cabe ao Estado dar o exemplo. Mas, ao que parece, são outras as suas diretrizes: ganhar tempo, adiar despesas.

Marcos Mariano da Silva, 19 anos recluso por crime que não cometeu, morto aos 63 anos. E o governo do estado de Pernambuco, não satisfeito em  incapacitar um cidadão inocente (que deixou o sistema prisional cego e tuberculoso)  postergou os efeitos da Justiça, de modo que Marcos Mariano morreu antes de receber a compensação financeira pelo dano material e moral sofrido.

É certo que a União, assim como os estados, o DF e os municípios, não pode ficar indefesa em processos em que é ré. Mas, por que será que os advogados que  representam o Poder Público, depois de estudar devidamente as ações movidas por terceiros e de constatar aquilo que é de direito, não admitem o erro? Por que adiam  a  realização das expectativas daqueles a quem o Estado lesou? Todo réu tem direito à defesa; mas, daí a burlar o direito dos que buscam, na Justiça, a reparação do erro de que são vítimas, é inadmissível, é revoltante. Equivale a subtrair, do cidadão, qualquer recurso, em qualquer instância, caracterizando violação de direitos humanos, restando, como última medida, a apelação à Organização dos Estados Americanos.

Eu  penso que os advogados que fazem a representação jurídica dos entes do Estado Brasileiro, se pretendem ter orgulho do que fazem (tanto quanto do contra-cheque que recebem), precisam estar atentos a essa questão porque não há beleza, não há ética em ser um mero instrumento da covardia do Estado contra o cidadão.

domingo, 27 de novembro de 2011

Educação? Zero. Espiritualidade? Adormecida.

Estar bem informado, ser bem educado, é fator de saúde, porque faculta, ao indivíduo, as melhores escolhas, ainda que os recursos sejam escassos; aliás, quanto mais escassos, mais cuidadosa deverá ser a escolha.

Alimentar-se de forma consciente, não somente para saciar a fome ou para degustar guloseimas, mas para atender necessidades do corpo físico. Escolher boa música, bons livros, bons filmes... Escolher os melhores amigos, namorados e eventuais ficantes poupando-se da promiscuidade... Tudo isso requer um repertório prévio, de modo que se saiba o que buscar e onde.

Quando não se detém adequado conhecimento a cerca de questões básicas da vida, a única alternativa será aprender apanhando... Muitos não terão sorte, ou tempo para aprender, porque morrerão na  primeira pancada. No entanto, um aprendizado consistente, continuado, sustenta qualquer personalidade, nos embates da vida, e é capaz, até, de curar males psíquicos e físicos.

Reconhecer, em si, o espírito, a vida além do corpo, é crucial! Porque há valores que precisam ser cultivados, regras de respeito aos outros e a si mesmo, pregadas por diferentes religiões: não fazer mal a si mesmo e não fazer ao próximo o mal que não deseja para si.

É um preceito básico que precisa ser levado em conta quando se faz escolhas. É uma questão de boa educação.

Contudo, o corriqueiro são as situações opostas, na vida privada, tanto quanto no plano político, em que um indivíduo faz mal a coletividades simplesmente para satisfazer caprichos pessoais. E que caprichos tolos... amealhar montanhas de dinheiro, gastar desbragadamente, exibir luxo e poder...

Nossos políticos, ao ostentar riquezas produto de enriquecimento ilícito, exibem as próprias misérias e suas escolhas infelizes... Tanto quanto uma mulher, que exibe o corpo modelado por cirurgias plásticas, em trajes de piriguete, ou um homem que exibe a piriguete como troféu. Que repertório pequeno, quanta mesquinharia...

Educação? Zero. Espiritualidade? Adormecida.

sábado, 26 de novembro de 2011

Inteira liberdade e independência? Nem tanto...

É ilusão imaginar que se possa escrever, e publicar, com "inteira liberdade e independência"... A "inteira liberdade..." é adstrita a consequências eventualmente provocadas pelo que se escreve.
Quando decidi excluir o blog, que tinha por tema protestar contra a corrupção, o fiz por recear algum tipo de consequência. Entretanto, tudo que escrevi, em mais de trezentas postagens, foram somente comentários onde expunha, o mais didaticamente possível, os meandros de atos de gestão contaminados pela corrupção; e os mecanismos de controle, legalmente vigentes, pelos quais teria sido possível, ao Poder Público, impedir a concretização do mal feito.

Meu ponto de partida eram, sempre, acórdãos publicados pelo Tribunal de Contas da União e respectivos relatórios de auditoria onde se comprovava a  malversação escandalosa do dinheiro público. Ou seja, não era, eu, a responsável por qualquer denúncia (Haja coragem!); apenas esmiuçava indigestos relatórios técnicos, tentando tornar o assunto palatável. Mesmo assim, a certa altura, percebendo que  fazer "caixa dois", com superfaturamento e repasses de recursos públicos a fundo perdido, tornara-se medida corriqueira, do tipo "os fins justificam os meios", optei por excluir meus artigos.

Afinal, sou, somente,  uma cidadã indignada, não tenho o suporte de uma instituição com um departamento jurídico capaz de responder a uma eventual interpelação. Melhor prevenir porque, em 40 anos de Serviço Público, meu único patrimônio é a experiência.

E há um problema de fundo, nesse cenário de corrupção, que é a arrogância, a desinformação e a incompetência. E, um indivíduo arrogante que se julgue atingido em sua vaidade, reagirá, antes, pelo orgulho ferido do que por vergonha do ato praticado; e a retaliação não se fará esperar.

Corruptos arrogantes, arrogantes honestos,  ingênuos desinformados embriagados pela proximidade com o poder e que não conhecem absolutamente nada de administração pública...Tem razão um ex-colega de trabalho, piadista, que vivia repetindo: "Tem gente que acha bonito ser feio."  E eu completo: tem gente que se compraz na ignorância.

Agora mesmo, vimos, no noticiário, um ministro quase em lágrimas, se dizendo atacado, no episódio da substituição do BRT pelo VLT, ou seja, um projeto de 489 milhões daria lugar a um projeto de 1,2 bilhão...E não se pode questionar?

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O signo de gêmeos: inconstância, curiosidade, comunicação, flexibilidade...

Sou uma blogueira bissexta, embora tenha muito a dizer...
Como geminiana típica, sou viciada em informação (curiosidade é o meu nome rrrssss). E gosto de compartilhar, de me expressar, aconselhar... Às vezes, acabo bancando a "sabe tudo". E colho antipatias (Quem ela pensa que é?).

Assim sendo, a possibilidade de escrever sobre qualquer coisa, com inteira liberdade e independência, seria fascinante para quem sente a necessidade de extravasar o pensamento. Mas, não sei bem porquê, não sou constante neste espaço, releio as postagens e me acho pretensiosa, chata, sempre reiterando o papel salvador da educação, mesmo em postagem que tinha por alvo reclamar dos preconceitos sofridos, que publiquei no final do ano passado. Provavelmente, não foi lida por ninguém, quem sabe, agora...

MATURIDADE E FLEXIBILIDADE

Um cabelo branco aqui, outro ali, umas rugas, uns sulcos... Maturidade chegando, alguns privilégios, muitos estereótipos, muito preconceito a ser enfrentado. É que pessoas jovens, que pena, se apegam a algumas ideias com pouquíssima reflexão. E não é de agora e nem se pode culpar a atual geração de jovens. Na verdade, crenças vão sendo transmitidas, de pais para filhos; e, tão logo esses filhos se tornem adultos, se portarão, frente à geração de seus pais, com igual carga de preconceitos.

Eu me lembro que, na década de 80, quando decidi voltar à Faculdade, um dos professores indagou a idade de todos os alunos e há quanto tempo estavam longe dos estudos. Ao ouvir-me, sentenciou: você terá que se esforçar muito... Não é para te desanimar, não... mas...

Imagina se eu me desanimaria com tamanha sandice... E eu nem  havia completado os 40.
Mais tarde, já em pleno século 21, quando me candidatei a uma vaga em uma grande empresa de telecomunicações, ouvi: vai ser difícil, a empresa não contrata maiores de 50. Difícil, seria qualquer dos concorrentes, menores de 30, conhecerem tudo o que eu sabia, e sei, sobre a minha área. Por isso, fui selecionada.
Aos sessenta, de volta ao mercado, percebo a desconfiança e, paradoxalmente, a confiança que desperto. Se, por um lado, a tendência é acreditar que alguém com 30 anos de experiência vá superar as expectativas, por outro lado, há os que se permitem duvidar de quem traz as marcas do tempo no rosto, como se todo o nosso conhecimento estivesse superado, desatualizado... ou seja, teríamos passado uma parte da vida encerrados em uma espécie de cápsula do tempo, a margem dos acontecimentos! Pura tolice, puro preconceito contra os mais velhos.

Um indivíduo jovem pode estar totalmente desatualizado caso viva isolado dos acontecimentos, caso não tenha interesse suficiente pela própria profissão, caso não tenha compromisso com o próprio trabalho.
O que eu acho quase cômico é que noto, nas entrelinhas e nos entreolhares, a incredulidade dos que me ouvem referir legislação com idade superior a 40 anos. É a ignorância de adultos jovens frente à legislação que, por dever de ofício, deveriam conhecer e aplicar. E, também, a falta de cultura geral pois quando se trata do Direito, uma pessoa razoavelmente bem informada jamais faria esse tipo de associação, inferindo que alguém com mais de 60 cita normas antigas por desconhecer normas atuais.

No Direito, quanto melhor a norma, por mais tempo se manterá. Mas os ignorantes, provavelmente, desconhecem esse princípio,  não sabem que a constituição inglesa e a americana são centenárias; e que o nosso código penal data de 1940! Não sabem que a sucessão de leis e de medidas provisórias resulta, não de um imperativo ditado pela necessidade de modernizar, mas da falta de habilidade em construir normas flexíveis que atravessem o tempo se ajustando  a novas realidades.

Pessoas que não se educam, velhos ou jovens, se refugiam nos preconceitos herdados, se comprazem em ser ignorantes. E a educação institucional, infelizmente, contribui para sedimentar esses preconceitos já que não trabalha para demovê-los ou sequer os identifica. Fazer o quê? O jeito é se armar de paciência, paciência que só a maturidade confere. E torcer por uma melhor educação.

sábado, 22 de janeiro de 2011

As parafernálias tecnológicas ainda são necessárias

Hoje, fui a exames que fazem parte da rotina das mulheres adultas, principalmente das que já chegaram à terceira idade. E, mais uma vez, me vi remoendo contra a parafernália da Medicina, tanta tecnologia e tão pouca saúde. Mas, tenho certeza de que se aproxima o dia em que usaremos os recursos naturalmente disponíveis, em nossas mentes, e deixaremos de praticar essa espécie de suicídio cotidiano: sem stress, sem açúcar, sem carne vermelha, sem poluição, sem agrotóxicos....E a Medicina será básica e preventiva, os Psicólogos, nutricionistas, hipnoterapeutas, os homeopatas exercerão papel de destaque. E, principalmente, os professores, que serão nossos guias, ensinando, desde a mais tenra idade, regrinhas simples e fundamentais, essenciais à manutenção dessa máquina que é habitada por nossos espíritos.

Drogas lícitas e ilícitas para forjar felicidade? Não precisaremos, saberemos buscar bem estar naturalmente, acionando nossos mecanismos de produção de serotonina e dopamina. Anti-depressivos para quê?

De qualquer forma, o meu mundo é esse, meu tempo é agora, esse futuro ainda não chegou...então, meus protestos se limitam a elucubrações e, anualmente, sigo a mesma cartilha, me submeto obedientemente, às parafernálias tecnológicas que vão dizer se tenho, ou não, saúde.

Saí, cedo, querendo me livrar logo dessa obrigação. E tudo ficou pela metade pois o inusitado aconteceu: o meu Plano de Saúde, que libera as requisições, por telefone, alegou que não poderia autorizar os exames pois, aos sábados, não há médicos para realizar perícia. E desde quando, indago eu, se faz perícia por telefone? E, sobretudo, exames de rotina, exigidos periodicamente a quem já passou dos 50, prescindem de perícia! Bastaria checar o tempo transcorrido desde a última requisição! Mesmo com o contratempo, nem posso queixar-me; afinal, sou privilegiada, não dependo da Rede Pública.

Ainda assim, não hesito em remoer, em criticar: toda essa tecnologia que permitiu o rápido contato entre a Clínica e a Central 0800 do Plano (fax, teleones, emails...) tudo inútil porque a operadora do Plano não domina o  idioma pátrio e desconhece o signifiicado da palavra "perícia"...E não tem discernimento para perceber que perícias não são necessárias a exames de rotina... E não sabe interpretar o manual que, provavelmente, utiliza ao atender os contatos da rede credenciada. A melhor tecnologia é degradada quando o ser humano que a utiliza é um analfabeto funcional.

Na saída, uma velhinha, me fez a estranha pergunta: quem vem de Goiânia para, aqui, nessa entrada? Ela estava aguardando alguém e não sabia em que ala do edifício deveria esperar. Sugeri que entrasse em contato telefônico e ela respondeu que não tinha.

Enquanto os mais jovens dominam qualquer engenhoca moderna, entre os mais velhos, muitos ainda resistem e alegam, tolamente, que sempre viveram bem "sem essas coisas". A preguiça mental não é monopólio dos jovens avessos ao domínio do idioma; a mesma preguiça aflige os mais velhos que se recusam a usar qualquer tecnologia.

Se o nosso tempo é agora, porque rejeitar esses recursos que, nesse mundo mais complexo, facilitam a vida? Pareço contraditória, defendendo e atacando a tecnologia?

O valor de uma escritora

Li, na Revista Época desta semana, reportagem sobre a escritora Thalita Rebouças que, aos 36 anos, já se aproxima da marca de um mihão de livros vendidos. Ela conta que, em sua primeira Bienal, subiu em uma cadeira chamando a atenção dos presentes para a sua obra. Ela própria se promoveu, muito justamente pois, afinal, quem publica quer ser lido. Não há espaço para modéstia ou insegurança quando o objetivo é comunicar. O artista e o escritor precisam, necessariamente, se expor.

Eu, aqui, muito longe de ser uma escritora, também almejo ser lida. E me surpreende constatar que este blog tem leitores fora do país. As estatísticas do Blogger exibem números modestos, compatíveis com meu desempenho, tão irregular, semanas e semanas sem postar nada. É que sou uma dona de casa muito ocupada...rrrssssss...

Hoje, recebi um email sobre o valor de uma dona de casa que vale resumir: o marido chega em casa  e encontra os filhos sujos, ainda de pijama, soltos  na rua. Entra e se depara com um cenário de desordem por toda a casa: brinquedos espalhados, restos de comida, geladeira aberta, TV alta, pia cheia de louça... Ele começa a entrar em pânico e se pergunta o que teria acontecido à esposa. Chega ao quarto e a surpreende deitada, ainda de pijama, lendo um livro... Ela, então, lhe diz, provocativa: todos os dias, quando você chega do trabalho, pergunta: afinal, o que você fez o dia inteiro? E ela completa: Bem... hoje eu não fiz nada.

Consciente da importância do meu trabalho no lar, não me sinto frustrada por essa limitação de tempo...
Mas que dá uma inveja da Thalita... não vou negar. Começando pelo fato de que, ela, desde cedo reconhecendo a própria vocação e talento, concentrou-se nesse propósito, não se dispersou, acreditou em si mesma.

Infelizmente, a escola não tem sido capaz de auxiliar o estudante na identificação de habilidades e talentos. Então, há um grande desperdício de recursos e muitos são direcionados por modismos, sufocando interesses naturais, enterrando seus talentos, como na parábola de Jesus, Evangelho de Mateus.

Escrevendo, aqui, ainda que esporadicamente, uso a minha habilidade com a escrita...Tento não enterrar um dos meus talentos. Afinal, postar na Internet é mais que subir na cadeira...rrrrrrrrrrrrrrrrsssssssssss