segunda-feira, 30 de agosto de 2010

No meu tempo, no seu tempo...

As pessoas que, como eu, tem no currículo algumas décadas, frequentemente, iniciam diálogos com a frase "No meu tempo...", enquanto aludem ao que seriam as desvantagens dos dias presentes. E essas desvantagens, quase sempre, estão situadas no campo da moral e da ética.

Além de testemunha dos famosos "bons tempos", todos os que estudaram um pouco mais sabem que a realidade sempre foi dura para os mais pobres, para os mais fracos e para as minorias.

Se não rejeitaram todo o conteúdo de História do Brasil e de História Geral, ministrados no extinto Curso Primário e Ginasial, souberam que a ausência de direitos era a regra, que a tortura era uma prática, que a escravidão era normal já que categorias inteiras de criaturas, tidas por inferiores, ou perdedoras, eram subjugadas pelas nações e grupos mais fortes.

Os que lêem a bíblia sabem que a nação de Israel foi escravizada, ao longo da história, por diversos povos. Mas, dentre esses, a maioria enxerga a questão apenas em sua dimensão religiosa e sequer imagina que a escravidão era uma prática comum, um dos frutos da crueldade humana. Quando assistem, na TV,  notícias sobre o combate ao trabalho escravo,  sobre o tráfico de mulheres e de seres humanos em geral, provavelmente se espantam atribuindo esse fato a sintoma de uma doença do mundo moderno.

As atrocidades cometidas, no presente, em nome de religiões não superam às práticas passadas, em covardia, crueldade e dimensão. Basta lembrar a dizimação da cultura indigena e africana, imposta pela Igreja Católica no continente sul americano. Ou as fogueiras da inquisição, na Idade Média. Ou a prática da lapidação e da crucificação, que muitos ignoram  mas era um castigo corriqueiro.

E o assassinato em família? Era comum. Hoje, quando o noticiário nos defronta com filhos que  matam pais ou irmãos, ou a família toda, por herança, nos escandalizamos. E não é para menos. Mas é um erro acreditar que esse é um mal do mundo moderno. Muito pelo contrário, era um crime frequente em famílias em que se disputava o poder de governar.

E quanto ao mundo da política? Pobres e mulheres não votavam. O voto era restrito a homens que comprovassem uma certa renda.

E há muitos mais. Hoje, é possível buscar a verdade. Só permanece na ignorância quem se habituou a se limitar, acreditando em falsidades e em meias verdades, quando basta um click para descobrir e um pequeno esforço de raciocínio para avaliar as descobertas comparando-as às "revelações" de púlpitos e de palanques. Mesmo aqueles que "fugiram" da escola, ou que não tiveram acesso a ela, têm instrumentos formidáveis de informação à sua disposição. E, ainda que a escola seja "conservadora e limitante", é um bom ponto de partida para quem almeja pensar de forma mais independente, evitando rótulos e clichês.

domingo, 29 de agosto de 2010

Mulheres, homens... gays ou héteros...Seres humanos!

Os tempos mudam, os clichês e chavões pelos quais muitas pessoas se norteiam, também mudam.Ou seja, não nos desvencilhamos dos clichês, apenas os substituímos.

Portanto, não se pode contar com uma mudança de atitude, onde passemos a reconhecer e a rejeitar certos padrões de pensamento. E que padrões! Limitadores porque imobilizam, impedem o pensamento de fluir com liberdade, freiam a marcha do progresso, se opõem, até, à ciência.

Não vai longe o tempo em que "pérolas de sabedoria" desfilavam na boca de muita gente tida por intelectual: "Ecologia é coisa de viado", "lugar de mulher é na cozinha", "um homem não se senta no banco do carona em carro dirigido por mulher", "um filho gay ou uma filha solteira grávida, não podem partilhar a vida da família"...

Por causa desses padrões, solidamente plantados, considerável parcela da humanidade foi mantida em exclusão, não teve chance de contribuir com os talentos mais típicos de sua experiência e condição.

No século passado, quando a mulher começava a ter acesso às universidades e ao mercado de trabalho, era rotineiro se ouvir que não eram aptas para as áreas ligadas às ciências exatas, que mulheres não eram dotadas de raciocínio matemático: seres essencialmente maternais, deveriam buscar áreas de acordo com esse perfil.

Disseminando-se esse tipo de crença, restringia-se o acesso das mulheres a cursos que não fossem os de enfermagem, serviço social e magistério. E quando uma mulher ousava discordar desse molde, dessa espécie de forma, era logo rotulada, de rebelde, sapatão ... E, quando bem sucedida no trabalho, sempre levantaria suspeitas quanto à sua conduta sexual: será que dormiu com o patrão?

Preconceitos semelhantes são impostos aos que tem conduta sexual diferenciada e, historicamente, gays tem sido compelidos ao exercício de atividades tidas por femininas: na área de estética, artes, decoração, moda... Interessante é que somos, todos, levados a acreditar que gays devam se circunscrever a esse nicho, porque eles são como as mulheres, sensíveis... E a palavra "sensibilidade", nesse contexto, é sempre empregada de forma pejorativa.

Quando é que vamos procurar pensar com mais liberdade? O mais provável é que gays, assim como as mulheres, exercendo profissões fora desses nichos, vão desempenhá-las com o mesmo sucesso que os homens hetero, bastando que se lhes dê a chance de serem tratados como seres humanos que são, independentemente de sua inclinação sexual.

Já se nota, hoje, que algumas construtoras dão preferência à contratação de mulheres porque elas são mais caprichosas, mais detalhistas. Mas, há pouco menos de 30 anos, quem apostaria na presença de mulheres em canteiros de obras?

E os gays? Os que assumem publicamente a condição, continuam excluídos, marcando presença nos mesmos setores...

É interessante notar que a questão sexual, a par das religiões praticadas no mundo, mal compreendida e transformada em tabus de toda a sorte, é o pano de fundo de todo o atraso, de todas as limitações e atos de crueldade praticados contra tantos inocentes, por aqueles que se acreditam investidos de autoridade para impor um falso padrão moral: não raro, aqueles que perseguem e maltratam seus semelhantes é que são os portadores de desvios no comportamento sexual! Trata-se, na verdade, de um "padrão moral" ditado por recalques e desvios que poderiam ser curados com uma boa terapia.

Ou seja, doente é quem persegue o próximo cerceando a sua liberdade e oprimindo-o, subtraindo-lhe oportunidades de educação e de trabalho.