sábado, 28 de agosto de 2010

Maturidade e flexibilidade

Um cabelo branco aqui, outro ali, umas rugas, uns sulcos... Maturidade chegando, alguns privilégios, muitos estereótipos, muito preconceito a ser enfrentado. É que pessoas jovens, que pena, se apegam a algumas ideias com pouquíssima reflexão.E não é de agora e nem se pode culpar a atual geração de jovens. Na verdade, crenças vão sendo transmitidas, de pais para filhos; e, tão logo esses filhos se tornem adultos, se portarão, frente à geração de seus pais, com igual carga de preconceitos. 

Eu me lembro que, na década de 80, quando decidi voltar à Faculdade, um dos professores indagou a idade de todos os alunos e há quanto tempo estavam longe dos estudos. Ao ouvir-me, sentenciou: você terá que se esforçar muito... Não é para te desanimar, não... mas...

Imagina se eu me desanimaria com tamanha sandice... E eu nem  havia completado os 40.

Mais tarde, já em pleno século 21, quando me candidatei a uma vaga em uma grande empresa de telecomunicações, ouvi: vai ser difícil, a empresa não contrata maiores de 50. Difícil, seria qualquer dos concorrentes, menores de 30, conhecerem tudo o que eu sabia, e sei, sobre a minha área. Por isso, fui selecionada.

Aos sessenta, de volta ao mercado, percebo a desconfiança e, paradoxalmente, a confiança que desperto. Se, por um lado, a tendência é acreditar que alguém com 30 anos de experiência vá superar as expectativas, por outro lado, há os que se permitem duvidar de quem traz as marcas do tempo no rosto, como se todo o nosso conhecimento estivesse superado, desatualizado... ou seja, teríamos passado uma parte da vida encerrados em uma espécie de cápsula do tempo, a margem dos acontecimentos! Pura tolice, puro preconceito contra os mais velhos.

Um indivíduo jovem pode estar totalmente desatualizado caso viva isolado dos acontecimentos, caso não tenha interesse suficiente pela própria profissão, caso não tenha compromisso com o próprio trabalho.

O que eu acho quase cômico é que noto, nas entrelinhas e nos entreolhares, a incredulidade dos que me ouvem referir legislação com idade superior a 40 anos. É a ignorância de adultos jovens frente à legislação que, por dever de ofício, deveriam conhecer e aplicar. E, também, a falta de cultura geral pois quando se trata do Direito, uma pessoa razoavelmente bem informada jamais faria esse tipo de associação, inferindo que alguém com mais de 60 cita normas antigas por desconhecer normas atuais.

No Direito, quanto melhor a norma, por mais tempo se manterá. Mas os ignorantes, provavelmente, desconhecem esse princípio,  não sabem que a constituição inglesa e a americana são centenárias; e que o nosso código penal data de 1940! Não sabem que a sucessão de leis e de medidas provisórias resulta, não de um imperativo ditado pela necessidade de modernizar, mas da falta de habilidade em construir normas flexíveis que atravessem o tempo se ajustando  a novas realidades.

Pessoas que não se educam, velhos ou jovens, se refugiam nos preconceitos herdados. E a educação institucional, infelizmente, contribui para sedimentar preconceitos já que não trabalha para demovê-los ou sequer os identifica. Fazer o quê? O jeito é se armar de paciência, paciência que só a maturidade confere. E torcer por uma melhor educação.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cada povo tem o governo que merece: é a lei da atração funcionando ...

Algumas pessoas parecem dotadas de habilidade especial  para identificar e explorar as fraquezas humanas. Assim, o portador de baixa auto-estima, ou seja,  aquele cara que está sempre pronto a vestir qualquer carapuça, sempre morto de medo de desagradar... é justamente esse sujeito a vítima potencial de qualquer intimidador/assediador.

E o assediado sempre se perguntará "por que eu", tão gentil, tão pronto a servir, tão cumpridor das minhas obrigações... É que o explorador tem uma espécie de faro ultrasensível às emanações de uma certa dose de pusilanimidade presente no assediado. A pusilaminidade, seja qual for a justificativa (pressão financeira, medo de perder o emprego, o marido, o amigo), ainda terá o mesmo significado: medo. O medo e a baixa auto-estima converte-nos em refém dessas inteligências tão odiosamente perspicazes.

Inteligências perspicazes são responsáveis, também, por aplicar os velhos golpes conhecidos popularmente como "conto do vigário"; ou, modernamente, estelionato. E continuam a fazer vítimas, apesar dos ardís tão manjados.

E todos sabemos porquê. Apesar da repetição do método, que consiste, simplesmente, em convencer a vítima potencial de que acaba de encontrar a sorte grande, de fazê-la acreditar que o negócio é vantajoso com pouco esforço... E a simbiose se estabelece entre aquele que, de fato, levará vantagem e aquele que pensa que lucrará às custas de suposta vulnerabilidade do  vigarista.

Digamos que, praticamente, fazemos por merecer certas situações.

Assim, também, na política. Então, quando se diz que "cada povo tem o governo que merece", nada mas correto: um povo pronto para relevar a corrupção, tem um desfile de fichas-suja no horário eleitoral.

Felizmente, esses males do caráter admitem tratamento preventivo: a educação de qualidade é excelente antídoto.