sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Jovens precisam de heróis. Que heróis lhes apresentaremos?

Bons exemplos, capazes de orientar e incentivar os jovens, não faltam em biografias de pessoas notáveis. E, também, no feito de pessoas comuns que, vez por outra, viram manchetes nos jornais, tamanha a coragem e a força de vontade que ostentam. Na trajetória dessas pessoas, estão presentes o esforço e o empenho pessoal, algo que não é valorizado, e sequer apresentado, aos jovens e crianças.

Os heróis das aulas de História, da maneira como construídos na maioria dos livros, não são capazes de atrair admiração, figuras distantes da realidade, personagens de um cenário político, sempre complexo e que escapa à compreensão da maioria dos adultos, que dirá dos jovens. Já os grandes inventores, os grandes artistas e escritores, tem histórias de vida muito mais atraentes, muito mais próximas do cotidiano das pessoas comuns. Até porque, muitos morreram longe dos holofotes do poder, embora o seu papel político seja ainda mais relevante que o dos próprios políticos. Não fosse o inventor do telefone, onde estaríamos, agora, nós e os políticos?

A trajetória humana tem, de sobra, amostra de personalidades dignas de admiração e respeito que deveriam ser cultuadas, fazer parte do imaginário de todos como ideais a serem alcançados.

E o que temos de efetivo? As celebridades da TV e os bandidos travestidos de heróis que, nas comunidades pobres, onde reside boa parcela da população jovem brasileira, são os únicos ídolos imitados. Do outro lado, estão as “novas igrejas” que, ao invés de rebater essa tendência apelando ao que de melhor existe nas pessoas, parece explorar essa negatividade, buscando transferir para a figura de um “Jesus de ocasião”, a sede de adoração que é tão comum aos jovens.

Um Jesus moldado para catalisar essa sede de idolatria, apresentado como centro de tudo, a partir do qual tudo emanaria, muito distante, portando, do Jesus revelado pelas escrituras bíblicas já que, no "modelo" perpetrado, o esforço individual conta menos que o credo a que se aderiu, o que se mostra totalmente inverso à história de Jesus!

“Buscai o reino dos céus em primeiro lugar, e tudo vos virá por acréscimo.” O que significaria, exatamente, essas palavras? Frequentar o templo diariamente, ouvir os sermões, pagar o dízimo, ser submisso à palavra proferida por quem está a frente da platéia de crentes?

Pratica-se uma espécie de charlatanismo sob os olhos de um Estado que se acha tolhido pelo princípio constitucional da “liberdade de credo”. Mas, se esse mesmo Estado proporcionasse aos seus cidadãos educação decente, todos estariam em condições de repudiar, livremente, qualquer discurso que não apelasse ao raciocínio e à inteligência; de rejeitar “ídolos de pés de barro”; e de buscar identificação com seres humanos que honraram a humanidade com seus feitos para seguir-lhes o exemplo e não para esperar por benesses. E o Exército de submissos a tolices se reduziria aos preguiçosos, àqueles que preferem acreditar que tudo cairá do céu.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

E, que tal uma fé desinteressada?

Uma fé verdadeira e desinteressada seria muito útil nesses dias de “toma lá dá cá”. Crer, não pela promessa de um dia vindouro, mas pela vida da qual já se desfruta, agora. O dom de viver pertence a qualquer um que nasceu, concedido pelo Criador que nada pediu em troca. Esse é um motivo suficiente para crer, para ser e fazer o melhor da própria vida.

Mas não é esse o tipo de motivação explorada pela educação. O hábito de se oferecer uma recompensa, a quem cumpre com suas obrigações, começa em casa, quando os pais premiam ou castigam para estimular comportamentos desejados. Poderíamos, desde cedo, ser conduzidos a perceber que nossos melhores desafios e recompensas são conquistados em nosso íntimo, quando vencemos a nossas próprias limitações.

Nos dias presentes, muitos escolheram atribuir a forças externas todo o poder de realização que deveriam cultivar em si. Afirmam conseguir emprego, boa saúde, passar em vestibular e em concursos, manter os filhos a salvo das drogas, de gravidez precoce, etc, tudo por “intervenção divina”. E a divindade lhes concede todas as benesses por freqüentarem e trabalharem para essa ou aquela igreja, de preferência sem descuidar dos dízimos. Se, de repente, se afastam...Cuidado, a vida pode degringolar. Então, para esse grupo cada vez mais numeroso de pessoas, há muito pouco o que se fazer “aqui fora” ou, melhor dizendo, dentro de si mesmos.

Quando buscamos em nós, somos mais compassivos porque passamos a enxergar melhor nossas próprias fraquezas. Os fiéis das "igrejas", induzidos a crer que fazem jus à prosperidade e que estão a salvo por estarem em certos templos, tendem a repudiar os que professem outra fé: caminham, exatamente, na contra-mão dos princípios cristãos e por vezes, com extrema crueldade, atribuem a desgraça alheia à prática de outros credos. “Se a vossa justiça não ultrapassar a dos fariseus, não entrareis no reino dos céus”, eis a simplicidade dessa sentença, em que Jesus informa que a verdadeira justiça é a misericórdia.

As novas igrejas fazem tudo parecer muito fácil, basta dar o dízimo, freqüentar reuniões, entoar cânticos de feições cada dia mais profana: é o funk de Jesus, é o axé do Senhor... músicas melosas semelhantes às baladas românticas que se escuta em qualquer parada de sucessos. Fazem um triste e ridículo arremedo das diversões que, aqui fora, atraem os jovens; organizam grupos com diferentes níveis de poder, em que se pode ascender a hierarquias mais elevadas levando a competição, a intriga e a inveja para o seio das igrejas!

Os jovens atraídos precisariam, antes de qualquer coisa, melhorar seu nível educacional para entender o real sentido de justiça, de misericórdia, de tolerância... E veriam, de imediato, que nada é tão fácil, que tudo custa um enorme esforço individual e que, mais do que se sacudir cantando o funk do Senhor, o necessário é estudar muito, ler bons livros, ouvir boa música... Sem se submeter ao crivo desta ou dela igreja que pretende, na verdade, dominar e manipular para ter o controle de uma multidão, cada vez mais numerosa, de pessoas crédulas que atribuem o próprio sucesso ou fracasso a causas externas, que se sentem prisioneiras e que receiam afastar-se e perder o que acreditam haver conquistado por intervenção da igreja.