quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Conservadores x revolucionários

Uma boa dose de tradição e conservadorismo é essencial ao progresso. Afinal, qualquer progresso se sustenta em um passado, onde, um dia, as novas idéias tiveram seu despertar. Não fossem os tradicionalistas, os revolucionários estariam “derrubando a casa” para começar do zero, desprezando a etapa que faz a ponte, onde se incorpora, e testa, gradativamente, as novidades. Os conservadores, quando seguram os revolucionários, são responsáveis pela transição entre o novo e o velho. Enfim, todos são úteis, cada um em seu papel, aparentemente antagônico mas, na verdade, de natureza complementar.

No que diz respeito à escola, que tem por clientela, exatamente, aquele grupo que pretende “derrubar a casa”, esse antagonismo poderia estar sendo deliberadamente explorado. No passado, tentativas de manifestação de jovens e crianças eram prontamente reprimidas; crianças e jovens eram proibidos de ter opinião e qualquer atitude nesse sentido era tida como desrespeito aos mais velhos. Os mais velhos pareciam enxergar os jovens como uma potencial ameaça.

Hoje, quando a vida nos grandes centros reúne multidões, quando conviver e sobreviver apresenta-se como um constante desafio, não faria o menor sentido reprimir jovens, condená-los ao silêncio, fazê-los repetidores decorebas do conhecimento passado, considerar errada qualquer resposta que se afaste de um entendimento mais tradicional de questões que, na realidade, sempre mereceram abordagens mais amplas.

Muito se fala das novas gerações de crianças e jovens como se fossem criaturas talhadas para a delinqüência. Na medida em que os vemos, repetidamente, protagonizando deploráveis cenas de violência, todos deveríamos entender que, se erros monumentais existem, não resultam da genética dessa geração. Não se trata de predestinação, mas de omissão e abandono. Relembrar, saudosamente, o passado quando ficávamos de pé, a cada novo período de aula, para reverenciar o professor, para nada se presta. O modelo passado não serve ao presente.

Na matéria publicada, há duas semanas, pelo Correio Braziliense sobre os jovens no Orkut, há uma história curiosa, certamente emblemática da realidade que vivermos: a mãe proibiu o filho de usar o Orkut; a criança, espertamente, retém parte do troco quando vai à rua, atendendo ao mandado da mãe, e paga o uso da lan house. Ora, as crianças das gerações que recebiam o professor de pé, brincavam de subir em árvores, de correr, soltar pipa... Dá para comparar, dá para invocar a “saudosa” para alguns, “pedagogia da porrada”?

A par das escolas mal instrumentadas, temos as “novas” igrejas, plantadas em comunidades carentes. Essas igrejas, gozando da estima e da confiança da família, poderiam ser de grande ajuda no desenvolvimento de valores verdadeiros. Mas não são. Conservadoras, são a expressão do atraso, prometendo céu e inferno em futuro distante, confundindo castidade com um tipo de virtude, atribuindo a forças externas (o demônio) a responsabilidade pelas fraquezas e vícios dos fiéis. E, infelizmente, nessas “novas” igrejas, parece não existir um mínimo da tradição mais saudável das igrejas "antigas": integridade e fé verdadeira e desinteressada.

O que temos, então? Mal educados deseducam e todos pagamos o pato.