terça-feira, 11 de novembro de 2008

ADESTRAR, DOMESTICAR, EDUCAR...

Sempre que leio, ou assisto na TV, matérias sobre adestramento de cães para que aprendam regras que facultem o seu convívio no ambiente doméstico, penso no papel que a educação exerce no “adestramento” do ser humano. Afinal, tanto o processo, que consiste em ensinar-aprender, como os objetivos de socialização e convivência, são basicamente, os mesmos.

Somos selvagens? Parece que sim e que, na falta de “adestramento”, não se viabiliza a convivência civilizada. O estudo da História mostra que, em todos os grupos humanos, desde os mais primitivos, estabeleciam-se regras e existiam valores aceitos e reconhecidos por todos, transmitidos, geração após geração. Nesses grupos, a transmissão era feita pelos mais idosos, tidos como sábios e respeitados por todos. Era um modelo de educação, um bom modelo já que se mostrou capaz de preservar a vida e de perpetuar a cultura e as crenças vigentes nos pequenos grupamentos esparsos por todo o planeta que, por séculos, constituíram a população da Terra.

Hoje, quando os grupos humanos tornaram-se sociedades complexas, quando multidões aglomeram-se nas metrópoles, mais do que nunca importa a aceitação de regras e valores. E a educação formal, que assumiu o papel dos “anciões das tribos”, deveria ocupar lugar de destaque nessas sociedades, na formação dos indivíduos.

Mas parece existir uma obliteração, ou uma obnubilação das consciências; e, que me desculpem por essas expressões fora de uso mas, traduzindo, é isso mesmo que transparece: obnubilação é a diminuição da consciência, confusão mental, incoerência; obliteração é fazer desaparecer aos poucos, fazer esquecer aos poucos.

É como estamos; anestesiados, em crise de sonambulismo, em uma espécie de transe que não nos permite enxergar onde reside o erro primordial que, se removido, solucionará todos os outros males. Enquanto isto, as escolas vem sendo transformadas em palco da violência e da deseducação, a ponto de parecer que assumiram o papel exatamente oposto ao que lhe cabe na disseminação e preservação de regras de convivência.

Entretanto, o papel da escola torna-se mais importante do que o da própria família já que se trata de reverter quadro em que, na vida dos pais, a escola esteve ausente.

Pais que migraram de suas pequenas cidades para os grandes centros, abandonando seus grupos familiares, precisaram enfrentar um mundo hostil, em que a televisão induzia mudança radical de costumes enquanto as drogas e o álcool ofereciam um sucedâneo para os dias mais negros. Famílias desestruturadas não educam. Sobra para as escolas, para o Estado, toda a responsabilidade pela formação de boa parcela desses indivíduos.

O sistema educacional não está preparado para tarefa nessa dimensão; e os professores, que sempre foram cobrados desde o tempo em que se dizia que “ensinar é um sacerdócio”, vem, efetivamente, se transformando em mártires. Recentemente, um diretor de escola foi assassinado por um traficante, e ex-aluno, aqui no DF.

Não importa se os recursos do orçamento público são escassos, ou se há crise pois quanto maior a escassez, maior deveria ser a cautela na hora de definir prioridades. É suficiente aceitar que a educação é o fator capaz de devolver a sanidade a todos, até mesmo aos portadores de distúrbios físicos. Caso contrário, essa loucura comparável a uma avalanche, que se expressa em números e estatísticas crescentes de violência, fará sucumbir o que ainda restar de civilização.