quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Construindo o amor ou o ódio

A investigação de crime que chocou a todos trouxe à luz o que poderia ser a motivação do austríaco que trancafiou a filha por décadas.

Embora a maioria de nos rejeite a idéia de existirem motivações para crimes onde o que transparece é a crueldade gratuita, seria mais lúcido que procurássemos pressupor sua existência e descobri-las.

Esmiuçando a natureza humana como ela é, repudiando, não a idéia de possíveis motivações mas, as tolices românticas que construímos acerca de nós mesmos ; quem sabe, não seria, esse, o caminho para ações educacionais mais conscientes que pudessem prevenir o mal futuro.

O austríaco, segundo apurado durante o atendimento psiquiátrico , trancafiara, muito antes, a própria mãe. O que ele alega: maus tratos, surras violentas, privações, ausência total de afeto, na convivência com a mãe que o criou sozinha. Dado o tempo transcorrido, provavelmente não será possível confirmar essa versão. Mas, tais fatos não são improváveis.

Conheci criaturas que, por terem sido maltratadas por pais ignorantes, reproduziram o comportamento com filhos e esposa. E, acredito que muitas pessoas tenham ouvido, e até testemunhado, histórias parecidas. O incomum, no caso do austríaco, é a extrema brutalidade. Por isto, creio que não se deveria pensar o fato como um caso isolado, lá do outro lado do hemisfério. Ao contrário, a dimensão da atrocidade praticada serviria de alerta.

O amor não é um sentimento automático, que surge entre pais e filhos, entre familiares, por força dos laços sanguíneos; precisa ser construído, dia após dia, geração após geração. E esse amor transborda, extravasa do ambiente familiar para a sociedade; da mesma forma que o ódio, cultivado entre as paredes do “lar, doce lar”.

Em recente programa da apresentadora Oprah Winfrey, esteve presente o pai de um jovem assassino: o sujeito matou a mãe e o irmão. Motivos declarados: nunca se sentiu amado, nunca se sentiu capaz frente a um irmão bem sucedido, alvo da sua inveja. E, tanto o pai como a mãe assassinada, nunca notaram que tinham um filho problemático.

Temos assistido a violência crescente dentro de nossas escolas, onde jovens de 13, 14 anos agridem professores, agridem-se entre si, matam-se depois de combinar tudo pelo site de relacionamento Orkut. No entanto, o acesso ao Orkut implica em declarar a maioridade de 18 anos. Onde estariam os pais?

Nossas ações educacionais, no lar e nas escolas, não estão produzindo o resultado desejado e os atos de selvageria vem se alastrando sem que nenhuma providência efetiva esteja sendo adotada, ou exigida pela sociedade. Somente nos indignamos, quando atos de crueldade mais extremada chegam às manchetes. Depois, seguimos com as nossas rotinas.