terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Apanhando se aprende?

Estamos em contínuo aprendizado, um aprendizado nada fácil, onde os melhores frutos são colhidos após grandes desastres, como se as lágrimas derramadas fossem o mais eficiente dos adubos.

Tudo seria, infinitamente, melhor se a humanidade acreditasse, definitivamente, no valor da educação. Ao invés de aprender apanhando e de, tolamente, seguir à risca o velho método tentativa e erro, precisamos estudar mil vezes mais, conhecer melhor a natureza humana e o ambiente do qual somos totalmente dependentes. E repassar o conhecimento, sempre e continuamente.

Vivemos às avessas, sempre correndo atrás do tempo perdido e de reparar, a cada dia, o erro cometido ontem. Hoje, depois de estarmos doentes e obesos, soubemos que açúcar é prejudicial e que, em curto prazo, será fatal, combinado com carboidratos em tortas saturadas de gordura; que refrigerantes viciam e que, quanto menos comer e quanto mais meditar, se viverá com maior qualidade. Mas, quantos de nós sabemos? Uns poucos, os demais, continuarão a se envenenar, a sobrecarregar o sistema de saúde e se tornarão, a cada dia, menos produtivos e mais infelizes.

Depois de havermos devastado e poluído, descobrimos que boa parte dos danos provocados são irreparáveis e que, muito em breve, estaremos pagando o preço desses erros com escassez de alimentos, doenças e desordens climáticas.

Depois de havermos fechado os olhos para a miséria e a desigualdade, assistimos, perplexos, a violência das periferias das grandes metrópoles alcançar os guetos abastados... Sim, os bairros de classe média alta converteram-se em guetos, cercados de periferia por todos os lados, sem blindex, sem escudos suficientes...

Depois que conquistas tecnológicas fizeram, dos dias presentes, cenários dignos dos mais delirantes filmes de ficção científica, vivemos um paradoxo: quando o assunto é educação, ou o cenário é o do século passado, ou remete a filmes de ficção que retratam o pior dos futuros, com destruição e o retorno à selvageria.

Hoje, aqui no DF alunos incendiaram a sala de professores de uma escola pública, na cidade satélite do Gama, conforme noticiado no DF-TV, da Rede Globo:

"Fogo destrói livros e materiais de professores
Foram encontrados fósforos riscados no local. A polícia desconfia de um aluno.
O autor do atentado ameaçou por telefone. Depois, cumpriu a ameaça. A sala dos professores do Centro de Ensino Fundamental Nº 5, no Gama, foi incendiada nessa segunda-feira (15). O fogo queimou livros e materiais de trabalho. Os funcionários da escola disseram que havia fósforos riscados pelo chão, confirmando o atentado. A polícia já desconfia de um aluno."

Na 2ª Edição de ontem, 15/12, a notícia não era menos assombrosa:
"Menor é esfaqueado no Itapoã.Na escola pública da cidade, um aluno foi esfaqueado dentro da sala de aula. Agressor tentou fugir, mas foi pego pelos estudantes.
O dia era de confraternização de Natal no Centro de Ensino Fundamental Nº 1 do Itapoã. Mas a festa nem chegou a acontecer. Uma tentativa de homicídio fechou a escola."

Apanhando sem aprender!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Jovens precisam de heróis. Que heróis lhes apresentaremos?

Bons exemplos, capazes de orientar e incentivar os jovens, não faltam em biografias de pessoas notáveis. E, também, no feito de pessoas comuns que, vez por outra, viram manchetes nos jornais, tamanha a coragem e a força de vontade que ostentam. Na trajetória dessas pessoas, estão presentes o esforço e o empenho pessoal, algo que não é valorizado, e sequer apresentado, aos jovens e crianças.

Os heróis das aulas de História, da maneira como construídos na maioria dos livros, não são capazes de atrair admiração, figuras distantes da realidade, personagens de um cenário político, sempre complexo e que escapa à compreensão da maioria dos adultos, que dirá dos jovens. Já os grandes inventores, os grandes artistas e escritores, tem histórias de vida muito mais atraentes, muito mais próximas do cotidiano das pessoas comuns. Até porque, muitos morreram longe dos holofotes do poder, embora o seu papel político seja ainda mais relevante que o dos próprios políticos. Não fosse o inventor do telefone, onde estaríamos, agora, nós e os políticos?

A trajetória humana tem, de sobra, amostra de personalidades dignas de admiração e respeito que deveriam ser cultuadas, fazer parte do imaginário de todos como ideais a serem alcançados.

E o que temos de efetivo? As celebridades da TV e os bandidos travestidos de heróis que, nas comunidades pobres, onde reside boa parcela da população jovem brasileira, são os únicos ídolos imitados. Do outro lado, estão as “novas igrejas” que, ao invés de rebater essa tendência apelando ao que de melhor existe nas pessoas, parece explorar essa negatividade, buscando transferir para a figura de um “Jesus de ocasião”, a sede de adoração que é tão comum aos jovens.

Um Jesus moldado para catalisar essa sede de idolatria, apresentado como centro de tudo, a partir do qual tudo emanaria, muito distante, portando, do Jesus revelado pelas escrituras bíblicas já que, no "modelo" perpetrado, o esforço individual conta menos que o credo a que se aderiu, o que se mostra totalmente inverso à história de Jesus!

“Buscai o reino dos céus em primeiro lugar, e tudo vos virá por acréscimo.” O que significaria, exatamente, essas palavras? Frequentar o templo diariamente, ouvir os sermões, pagar o dízimo, ser submisso à palavra proferida por quem está a frente da platéia de crentes?

Pratica-se uma espécie de charlatanismo sob os olhos de um Estado que se acha tolhido pelo princípio constitucional da “liberdade de credo”. Mas, se esse mesmo Estado proporcionasse aos seus cidadãos educação decente, todos estariam em condições de repudiar, livremente, qualquer discurso que não apelasse ao raciocínio e à inteligência; de rejeitar “ídolos de pés de barro”; e de buscar identificação com seres humanos que honraram a humanidade com seus feitos para seguir-lhes o exemplo e não para esperar por benesses. E o Exército de submissos a tolices se reduziria aos preguiçosos, àqueles que preferem acreditar que tudo cairá do céu.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

E, que tal uma fé desinteressada?

Uma fé verdadeira e desinteressada seria muito útil nesses dias de “toma lá dá cá”. Crer, não pela promessa de um dia vindouro, mas pela vida da qual já se desfruta, agora. O dom de viver pertence a qualquer um que nasceu, concedido pelo Criador que nada pediu em troca. Esse é um motivo suficiente para crer, para ser e fazer o melhor da própria vida.

Mas não é esse o tipo de motivação explorada pela educação. O hábito de se oferecer uma recompensa, a quem cumpre com suas obrigações, começa em casa, quando os pais premiam ou castigam para estimular comportamentos desejados. Poderíamos, desde cedo, ser conduzidos a perceber que nossos melhores desafios e recompensas são conquistados em nosso íntimo, quando vencemos a nossas próprias limitações.

Nos dias presentes, muitos escolheram atribuir a forças externas todo o poder de realização que deveriam cultivar em si. Afirmam conseguir emprego, boa saúde, passar em vestibular e em concursos, manter os filhos a salvo das drogas, de gravidez precoce, etc, tudo por “intervenção divina”. E a divindade lhes concede todas as benesses por freqüentarem e trabalharem para essa ou aquela igreja, de preferência sem descuidar dos dízimos. Se, de repente, se afastam...Cuidado, a vida pode degringolar. Então, para esse grupo cada vez mais numeroso de pessoas, há muito pouco o que se fazer “aqui fora” ou, melhor dizendo, dentro de si mesmos.

Quando buscamos em nós, somos mais compassivos porque passamos a enxergar melhor nossas próprias fraquezas. Os fiéis das "igrejas", induzidos a crer que fazem jus à prosperidade e que estão a salvo por estarem em certos templos, tendem a repudiar os que professem outra fé: caminham, exatamente, na contra-mão dos princípios cristãos e por vezes, com extrema crueldade, atribuem a desgraça alheia à prática de outros credos. “Se a vossa justiça não ultrapassar a dos fariseus, não entrareis no reino dos céus”, eis a simplicidade dessa sentença, em que Jesus informa que a verdadeira justiça é a misericórdia.

As novas igrejas fazem tudo parecer muito fácil, basta dar o dízimo, freqüentar reuniões, entoar cânticos de feições cada dia mais profana: é o funk de Jesus, é o axé do Senhor... músicas melosas semelhantes às baladas românticas que se escuta em qualquer parada de sucessos. Fazem um triste e ridículo arremedo das diversões que, aqui fora, atraem os jovens; organizam grupos com diferentes níveis de poder, em que se pode ascender a hierarquias mais elevadas levando a competição, a intriga e a inveja para o seio das igrejas!

Os jovens atraídos precisariam, antes de qualquer coisa, melhorar seu nível educacional para entender o real sentido de justiça, de misericórdia, de tolerância... E veriam, de imediato, que nada é tão fácil, que tudo custa um enorme esforço individual e que, mais do que se sacudir cantando o funk do Senhor, o necessário é estudar muito, ler bons livros, ouvir boa música... Sem se submeter ao crivo desta ou dela igreja que pretende, na verdade, dominar e manipular para ter o controle de uma multidão, cada vez mais numerosa, de pessoas crédulas que atribuem o próprio sucesso ou fracasso a causas externas, que se sentem prisioneiras e que receiam afastar-se e perder o que acreditam haver conquistado por intervenção da igreja.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Conservadores x revolucionários

Uma boa dose de tradição e conservadorismo é essencial ao progresso. Afinal, qualquer progresso se sustenta em um passado, onde, um dia, as novas idéias tiveram seu despertar. Não fossem os tradicionalistas, os revolucionários estariam “derrubando a casa” para começar do zero, desprezando a etapa que faz a ponte, onde se incorpora, e testa, gradativamente, as novidades. Os conservadores, quando seguram os revolucionários, são responsáveis pela transição entre o novo e o velho. Enfim, todos são úteis, cada um em seu papel, aparentemente antagônico mas, na verdade, de natureza complementar.

No que diz respeito à escola, que tem por clientela, exatamente, aquele grupo que pretende “derrubar a casa”, esse antagonismo poderia estar sendo deliberadamente explorado. No passado, tentativas de manifestação de jovens e crianças eram prontamente reprimidas; crianças e jovens eram proibidos de ter opinião e qualquer atitude nesse sentido era tida como desrespeito aos mais velhos. Os mais velhos pareciam enxergar os jovens como uma potencial ameaça.

Hoje, quando a vida nos grandes centros reúne multidões, quando conviver e sobreviver apresenta-se como um constante desafio, não faria o menor sentido reprimir jovens, condená-los ao silêncio, fazê-los repetidores decorebas do conhecimento passado, considerar errada qualquer resposta que se afaste de um entendimento mais tradicional de questões que, na realidade, sempre mereceram abordagens mais amplas.

Muito se fala das novas gerações de crianças e jovens como se fossem criaturas talhadas para a delinqüência. Na medida em que os vemos, repetidamente, protagonizando deploráveis cenas de violência, todos deveríamos entender que, se erros monumentais existem, não resultam da genética dessa geração. Não se trata de predestinação, mas de omissão e abandono. Relembrar, saudosamente, o passado quando ficávamos de pé, a cada novo período de aula, para reverenciar o professor, para nada se presta. O modelo passado não serve ao presente.

Na matéria publicada, há duas semanas, pelo Correio Braziliense sobre os jovens no Orkut, há uma história curiosa, certamente emblemática da realidade que vivermos: a mãe proibiu o filho de usar o Orkut; a criança, espertamente, retém parte do troco quando vai à rua, atendendo ao mandado da mãe, e paga o uso da lan house. Ora, as crianças das gerações que recebiam o professor de pé, brincavam de subir em árvores, de correr, soltar pipa... Dá para comparar, dá para invocar a “saudosa” para alguns, “pedagogia da porrada”?

A par das escolas mal instrumentadas, temos as “novas” igrejas, plantadas em comunidades carentes. Essas igrejas, gozando da estima e da confiança da família, poderiam ser de grande ajuda no desenvolvimento de valores verdadeiros. Mas não são. Conservadoras, são a expressão do atraso, prometendo céu e inferno em futuro distante, confundindo castidade com um tipo de virtude, atribuindo a forças externas (o demônio) a responsabilidade pelas fraquezas e vícios dos fiéis. E, infelizmente, nessas “novas” igrejas, parece não existir um mínimo da tradição mais saudável das igrejas "antigas": integridade e fé verdadeira e desinteressada.

O que temos, então? Mal educados deseducam e todos pagamos o pato.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vendendo imagem no Orkut: um palco de disputas

Logo que me cadastrei no Orkut, estranhei o modo como as pessoas se exibiam com fotos e frases do tipo “esta é minha casa de praia, este é o meu carro... As mulheres, e também as garotas, costumam se identificar com adendos ao pré-nome, qualificando-se como lindinhas e etc. As vezes, postam fotos em poses sensuais; tudo de uma pobreza surpreendente, deprimente e que faz lembrar os anúncios em que as profissionais do sexo se ofereciam nos classificados dos jornais (e, agora, também na internet). As profissionais vendem seus serviços; é normal. Quanto as outras, e outros, por que vender uma “imagem”?

Meninos freqüentam a academia para exibir tanquinhos e bíceps; meninas, além da academia, quando podem aplicam silicone, fazem escova progressiva... Imitam o que de mais decadente há, no mundo dos adultos, imitam o que de mais decadente há, no mundo dos mais ricos, das celebridades. E, pela construção dessa imagem, se estapeiam, cada qual em busca de sustentar um ego malformado.

Tudo isto é de um ridículo atroz e, se não tem correção, quem sabe não seria pelo fato de, no fundo, os mais velhos estarem compartilhando dessa trágica comédia. Ou será que os pais não percebem a competição exacerbada em que seus filhos estão mergulhados? Os pais fomentam quando compram itens da moda para serem exibidos e quando não esclarecem que incitar a inveja do próximo, além de tolo, pode ser perigoso.

E, depois, os jovens é que são “culpados”, eles é que são rotulados como se já nascessem problemáticos...

Ainda hoje, lendo o “O Globo”, soube que em uma instituição que abriga menores infratores, em Maceió, a Justiça proibiu o uso de roupas de marca, aparelhos de som e consumo de cigarro. O motivo: bens pessoais geram disputas “...um quer ter o que o outro tem...”. Será que esse problema é exclusivo de abrigos para menores?

Nas brigas entre meninas, a motivação, na maioria das vezes, é um menino que olhou ou foi olhado pela “outra”, uma rival potencial ou suposta. Tudo isto, em tenra faixa etária, antes, ainda, dos 18 anos. Nas comunidades de escolas, mantidas por alunos, é freqüente a promoção de fóruns do tipo “quem é a mais ...”

Foi matéria de capa, no “Correio Braziliense” do último domingo, o uso do Orkut, por jovens, e as repercussões no âmbito escolar. Uma Diretora, segundo a matéria, teve a feliz iniciativa de também cadastrar um perfil para monitorar os alunos. Não gostou do que viu e convocou os pais para um encontro. Uma das mães, surpresa, afirmou que seu filho sequer sabia mexer na Internet (tem mãe que é cega).

É evidente que a ação isolada de uma diretoria, ainda que bem intencionada, não será suficiente. O lamentável é que, até o momento, não há noticias de ações articuladas do poder público para enfrentar a questão.

Investir nas escolas é indispensável, mas não o mero investimento financeiro. O fundamental é colocar a educação no centro das discussões, é identificar soluções novas para uma nova realidade que muito pouco lembra o que existia há menos de 20 anos.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Filho de peixe, peixinho é?

Pesquisas empreendidas por órgãos governamentais vem revelando a repercussão que tem a educação da mulher na saúde da família: mães mais bem educadas, filhos mais saudáveis. E, também no rendimento escolar dos jovens estudantes, essa equação se manifesta de modo que os filhos das classes mais pobres sempre estão em desvantagem.

É mais ou menos como aquele dito popular, “filho de peixe, peixinho é.”. Dependemos totalmente de nossos pais, e não somente nos primeiros anos de vida. Qualquer um de nós pode dar testemunho a esse respeito.

Quando contemplo o passado com o distanciamento que os meus 60 anos permitem, ou quando pequenos atos da vida presente me trazem reminiscências da infância, relembro os ensinamentos recebidos. Dificilmente transcorrem 24 horas sem que eu me veja repetindo: meu pai dizia que ...aprendi com meu pai que... minha mãe fazia assim... minha mãe não gostava de... E, a cada dia, me dou conta de que, com eles, aprendi quase tudo.

Nem todos, porém tiveram, ou tem, a mesma sorte. Com ou sem sorte, o que fica evidente é a poderosa influência da educação e as severas conseqüências de sua falta.

Aprendemos, com as mais variadas religiões, que somos seres dotados de alma, criados para uma vida que se estenderá após a morte do corpo físico. Mas o fato é que um grau maior ou menor de consciência quanto aos valores da civilização, quanto a ideais de paz e de fraternidade depende do quanto se tenha assimilado da educação recebida. Mesmo o sentimento de ser, realmente, dotado de uma alma, de existir além do corpo físico, vai depender dessa educação, do grau de refinamento adquirido por meio da educação.

O ser humano precisa ser ensinado para que possa descobrir a si próprio, explorar seus talentos e administrar suas vulnerabilidades, seus defeitos. A partir de uma base familiar suficientemente estável, podemos desenvolver um grau de auto-estima que nos sustentará pela vida afora, que nos permitirá acreditar na possibilidade de realizar desejos e sonhos.

Esses jovens que depredam, que agridem e matam, não tem sonhos, não se importam com o amanhã, acreditam que nada tem a perder. Essa crença, de nada ter a perder, está na raiz de qualquer ato de violência, principalmente dos jovens. O gosto pela aventura e pelo perigo, o baixo instinto de preservação que é natural nas primeiras etapas da vida, se associa a essa “crença”.

Essa galera, quando sonha, sonha limitado, sonhos de consumo ditados pelas propagandas do horário nobre da TV. E reproduzem o comportamento de adultos competitivos que andam por ai, se medindo pelo vestuário, pelo tamanho de bunda, peito e bíceps, pelos padrões consumistas do nosso tempo.

Por que essa turma parece não ter a menor auto-estima? Por que não conseguem se enxergar além dos limites do corpo, além das aparências? Onde teriam ficado os pais e a escola na transmissão de valores mais saudáveis? Parece que fincamos os pés em um círculo vicioso onde mal educados deseducam...Deseducados mal educam...

domingo, 16 de novembro de 2008

Uma rotina de violência substitui a rotina de estudos

A violência nas escolas virou rotina. Assistimos, na TV, como capítulos de uma novela em que o autor, decidido a conquistar picos de audiência, buscasse surpreender a platéia com cenas cada vez mais impactantes.

Quem diria, a escola, antes um “lugar seguro” em que alunos obedientes à palmatória e a outros castigos humilhantes, pouco ousavam levantar a voz, ainda que o objetivo fosse o de indagar para compreender...

Os métodos antigos funcionaram e, ainda que o preço tenha sido o trauma de muitos, a ordem era mantida. É fácil garantir a obediência e o respeito com a intimidação. O difícil é formar, com esse método, pessoas criativas que pensem com liberdade.

Agora, abolidos os castigos físicos e a intimidação, falta encontrar o caminho capaz de levar crianças e adolescentes a respeitar a escola, os professores, os colegas, a família. No noticiário acerca do episódio na escola de São Paulo, em que os professores se trancaram para se proteger, chamou a minha atenção uma das medidas adotadas, a expulsão, a título de castigo. Sempre estranhei esse “instrumento pedagógico” que consiste, simplesmente, em repassar o problema.

O que falta, de verdade, é dedicar ao tema a atenção merecida. Afinal, entre tantos profissionais da educação, muitos hão de ter belas idéias capazes de reverter esse quadro. Lamentavelmente, a educação é relegada a quinto plano e as escolas públicas estão a um passo do “quinto dos infernos”.

O que não é razoável é se acreditar que a disciplina e o interesse serão alcançados quando são mantidos, nas escolas, os mesmos padrões do século passado, isto após terem sido abolidos os velhos instrumentos de coerção.

Nesta semana, visitei uma escola de 1ª a 6ª e me surpreendi com uma cena bastante lamentável. Uma aluna de cerca de 13 anos se debatia com sintomas cardíacos, estirada em um sofá quebrado, rasgado, na sala da recepção da escola. Eu entrei em busca de informação e lá estava a jovem, exposta, em flagrante desrespeito ao seu direito a um atendimento em espaço reservado , enquanto aguardava o socorro médico.

Uma escola situada em área nobre de Brasília, em plena Asa Sul, sequer dispõe de uma sala para emergências. E na periferia, como será?

Mais um exemplo de violência, em escola do DF, no Blog do Luis Hipólito, do Correio Braziliense.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

ADESTRAR, DOMESTICAR, EDUCAR...

Sempre que leio, ou assisto na TV, matérias sobre adestramento de cães para que aprendam regras que facultem o seu convívio no ambiente doméstico, penso no papel que a educação exerce no “adestramento” do ser humano. Afinal, tanto o processo, que consiste em ensinar-aprender, como os objetivos de socialização e convivência, são basicamente, os mesmos.

Somos selvagens? Parece que sim e que, na falta de “adestramento”, não se viabiliza a convivência civilizada. O estudo da História mostra que, em todos os grupos humanos, desde os mais primitivos, estabeleciam-se regras e existiam valores aceitos e reconhecidos por todos, transmitidos, geração após geração. Nesses grupos, a transmissão era feita pelos mais idosos, tidos como sábios e respeitados por todos. Era um modelo de educação, um bom modelo já que se mostrou capaz de preservar a vida e de perpetuar a cultura e as crenças vigentes nos pequenos grupamentos esparsos por todo o planeta que, por séculos, constituíram a população da Terra.

Hoje, quando os grupos humanos tornaram-se sociedades complexas, quando multidões aglomeram-se nas metrópoles, mais do que nunca importa a aceitação de regras e valores. E a educação formal, que assumiu o papel dos “anciões das tribos”, deveria ocupar lugar de destaque nessas sociedades, na formação dos indivíduos.

Mas parece existir uma obliteração, ou uma obnubilação das consciências; e, que me desculpem por essas expressões fora de uso mas, traduzindo, é isso mesmo que transparece: obnubilação é a diminuição da consciência, confusão mental, incoerência; obliteração é fazer desaparecer aos poucos, fazer esquecer aos poucos.

É como estamos; anestesiados, em crise de sonambulismo, em uma espécie de transe que não nos permite enxergar onde reside o erro primordial que, se removido, solucionará todos os outros males. Enquanto isto, as escolas vem sendo transformadas em palco da violência e da deseducação, a ponto de parecer que assumiram o papel exatamente oposto ao que lhe cabe na disseminação e preservação de regras de convivência.

Entretanto, o papel da escola torna-se mais importante do que o da própria família já que se trata de reverter quadro em que, na vida dos pais, a escola esteve ausente.

Pais que migraram de suas pequenas cidades para os grandes centros, abandonando seus grupos familiares, precisaram enfrentar um mundo hostil, em que a televisão induzia mudança radical de costumes enquanto as drogas e o álcool ofereciam um sucedâneo para os dias mais negros. Famílias desestruturadas não educam. Sobra para as escolas, para o Estado, toda a responsabilidade pela formação de boa parcela desses indivíduos.

O sistema educacional não está preparado para tarefa nessa dimensão; e os professores, que sempre foram cobrados desde o tempo em que se dizia que “ensinar é um sacerdócio”, vem, efetivamente, se transformando em mártires. Recentemente, um diretor de escola foi assassinado por um traficante, e ex-aluno, aqui no DF.

Não importa se os recursos do orçamento público são escassos, ou se há crise pois quanto maior a escassez, maior deveria ser a cautela na hora de definir prioridades. É suficiente aceitar que a educação é o fator capaz de devolver a sanidade a todos, até mesmo aos portadores de distúrbios físicos. Caso contrário, essa loucura comparável a uma avalanche, que se expressa em números e estatísticas crescentes de violência, fará sucumbir o que ainda restar de civilização.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Construindo o amor ou o ódio

A investigação de crime que chocou a todos trouxe à luz o que poderia ser a motivação do austríaco que trancafiou a filha por décadas.

Embora a maioria de nos rejeite a idéia de existirem motivações para crimes onde o que transparece é a crueldade gratuita, seria mais lúcido que procurássemos pressupor sua existência e descobri-las.

Esmiuçando a natureza humana como ela é, repudiando, não a idéia de possíveis motivações mas, as tolices românticas que construímos acerca de nós mesmos ; quem sabe, não seria, esse, o caminho para ações educacionais mais conscientes que pudessem prevenir o mal futuro.

O austríaco, segundo apurado durante o atendimento psiquiátrico , trancafiara, muito antes, a própria mãe. O que ele alega: maus tratos, surras violentas, privações, ausência total de afeto, na convivência com a mãe que o criou sozinha. Dado o tempo transcorrido, provavelmente não será possível confirmar essa versão. Mas, tais fatos não são improváveis.

Conheci criaturas que, por terem sido maltratadas por pais ignorantes, reproduziram o comportamento com filhos e esposa. E, acredito que muitas pessoas tenham ouvido, e até testemunhado, histórias parecidas. O incomum, no caso do austríaco, é a extrema brutalidade. Por isto, creio que não se deveria pensar o fato como um caso isolado, lá do outro lado do hemisfério. Ao contrário, a dimensão da atrocidade praticada serviria de alerta.

O amor não é um sentimento automático, que surge entre pais e filhos, entre familiares, por força dos laços sanguíneos; precisa ser construído, dia após dia, geração após geração. E esse amor transborda, extravasa do ambiente familiar para a sociedade; da mesma forma que o ódio, cultivado entre as paredes do “lar, doce lar”.

Em recente programa da apresentadora Oprah Winfrey, esteve presente o pai de um jovem assassino: o sujeito matou a mãe e o irmão. Motivos declarados: nunca se sentiu amado, nunca se sentiu capaz frente a um irmão bem sucedido, alvo da sua inveja. E, tanto o pai como a mãe assassinada, nunca notaram que tinham um filho problemático.

Temos assistido a violência crescente dentro de nossas escolas, onde jovens de 13, 14 anos agridem professores, agridem-se entre si, matam-se depois de combinar tudo pelo site de relacionamento Orkut. No entanto, o acesso ao Orkut implica em declarar a maioridade de 18 anos. Onde estariam os pais?

Nossas ações educacionais, no lar e nas escolas, não estão produzindo o resultado desejado e os atos de selvageria vem se alastrando sem que nenhuma providência efetiva esteja sendo adotada, ou exigida pela sociedade. Somente nos indignamos, quando atos de crueldade mais extremada chegam às manchetes. Depois, seguimos com as nossas rotinas.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Amor, serotonina, dopamina...

Sinto-me bastante perplexa com a facilidade com que muitos de nós classificam seus distúrbios de personalidade, ou seus instintos biológicos, com uma única palavra, que não faz parte da terminologia médica, mas que, no dicionário, é descrita como um substantivo abstrato utilizado para designar o “mais nobre dos sentimentos”, o amor.

Eu ando bastante enojada do “amor”.

O “amor de mãe”, ultimamente, tem feito muitas vítimas entre criaturas que mal chegaram ao mundo. E a culpa de tudo é do tal do “amor romântico”. Se as mulheres enxergassem a realidade da sua condição, pensariam 1000 vezes antes de se “apaixonar”. Apaixonar-se, para muitas, equivale a negligenciar a si mesma, aos seus planos a ponto de deixar de se proteger para evitar uma gravidez indesejada, uma doença, ou ambas as situações.

A desculpa do “amor” se presta a toda sorte de mesquinharias; trai-se por amor, abandona-se por amor, deixa-se de lado responsabilidades e compromissos por amor... mata-se por amor.

Essa espécie de amor deveria ser repelida, condenada tanto quanto o ódio e outros sentimentos de que não nos orgulhamos. Mas é difícil distinguir; estamos por demais habituados a alimentar nossas vidas com esse mito que criamos em torno do “amor”. A tal ponto que muitos afirmam que precisam “amar” sempre para se sentirem vivos. Mas a que espécie de amor estariam se referindo essas pessoas? Talvez o que falte a elas seja, somente, algum componente da química cerebral responsável pela sensação de felicidade e bem-estar: serotonina, dopamina...nada que a Medicina moderna não possa resolver.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sem educação, saúde e segurança são inalcançáveis

Meu tema, aqui, é quase sempre, a educação. Então, por que o título, “a saúde vem da alma”? E, por que a saúde viria da alma?

Porque, sem educação básica, a saúde é uma farsa, mera manutenção de parco equilíbrio, limitado ao corpo físico, a custa de medicamentos e de exames, onde a saúde mental e emocional, os hábitos, a cultura de cada um, não contam. Porque a educação é capaz de promover uma auto-aproximação: faz com que cheguemos mais perto de quem somos de fato.

Quando a cabeça não pensa, o corpo padece, sempre afirmaram os mais velhos, sabiamente. Sem conteúdo, ficamos a mercê das aparências, consertando a “máquina” em seus revestimentos, deixando de lado o que interessa de fato: nossos verdadeiros sentimentos, nossos reais talentos e interesses, nossos valores... Essas coisas abstratas que residem em nossa espiritualidade, que parecem distante e que, no entanto, são determinantes em nossa saúde, em nossa aparência física; fazem a diferença no plano individual e no plano coletivo.

No passado remoto, quando os habitantes do planeta constituíam grupos esparsos, separados por milhares de quilômetros e vivendo do que a terra produzia, talvez a educação não fosse tão relevante. Relevante era sobreviver. Agora, que somos bilhões, a maioria amontoados nas grandes cidades, relevante é saber conviver, é saber preservar recursos e espaços cada vez mais exíguos. A educação, então, ganha a mesma importância que o arroz e o feijão. E está à frente da saúde e da segurança.

Quantos policiais seriam necessários para manter a segurança na presença de turbas deseducadas? É possível, ao estado, prover segurança satisfatória quando a educação é relegada e quando, nas escolas, professores são alvo de violência física e psicológica?

Como prover a saúde de milhões de analfabetos funcionais? Analfabetos funcionais, sem acesso à informação de qualidade, refém de valores duvidosos ditados por propagandas que induzem ao consumo desenfreado, à exacerbação da sexualidade... Refens de maus religiosos que usam a Bíblia e o nome de Deus para subjugar os mais fracos...Como garantir saúde emocional e mental e evitar a formação de "quadrilhas", a partir desse exército de pessoas mal-formadas? Os atos de selvageria crescem, a cada dia, em quantidade e em crueldade.

Ainda assim, muitos brasileiros bem formados tendem a acreditar mais nas soluções de segurança em detrimento da educação. Precisamos acordar já que, nem no interior de nossas casas, encontraremos segurança se não soubermos conviver e ensinar a conviver em bases fraternas e de respeito mútuo. A falta de educação mata.

Existiria civilização sem educação?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A falta de educação mata

Acho espantoso que tantas crianças e jovens estejam sendo vitimados pela violência. Acredito que o assunto já deveria ser alvo de medidas especiais por parte das autoridades de saúde e de educação do país, porque todo esse excesso revela que a questão já ultrapassou a esfera policial; é praticamente, uma epidemia.

Não me julgo um modelo de mãe; e nem teria a pretensão de ditar regras de bem educar, mas observo que os pais talvez estejam se deixando “conduzir” pelos filhos, por modismos típicos da adolescência; talvez queiram parecer modernos, descolados, sem preconceitos... Sempre que vejo, no noticiário, acidentes fatais envolvendo meninos e meninas entre 16 e 18 anos, quando retornavam da balada, às 4 da matina, me pergunto: como assim??!! E meninas namorando aos 12 anos?

Os pais estão precisando de socorro para que possam socorrer seus filhos ou, até, para não deixá-los nascer antes que tenham maturidade para zelar por eles. Afinal, engravidar, não pode ser algo automático, sem compromisso, sem noção da responsabilidade que é prover a segurança e a integridade de terceiros.

Quase que semanalmente, lemos notícias em que pais, principalmente mães, trancaram filhos em carros, ou em casa, e foram para a balada. Depois, sempre se diz, em defesa de quem abandonou, que “é uma boa mãe...”.

O pior, mesmo, são os crimes horripilantes praticados por pais, em dupla ou não... Recentemente, viu-se aquela mãe de São Paulo alegar que não socorreu os dois filhos, evitando que fossem mortos pelo pai, porque já estava em outro relacionamento em que tinha mais quatro filhos!! Então, é simples assim, dar vazão aos instintos sem qualquer controle, gerar filhos e atirá-los ao inferno.

Que me perdoem as feministas, mas sobra para a mulher, que gera e carrega, a parcela maior de responsabilidade com a vida. Para que não usufruam, irresponsavelmente, a liberdade recém-conquistada, como os homens sempre foram estimulados a fazer, precisam ser cobradas com campanhas educativas honestas, que mostrem os fatos como eles são: somente a mulher sabe com certeza quem é o pai do filho que carrega. E, quando se permite o viver promíscuo que caracterizou, até recentemente, o comportamento masculino, precisa estar preparada para possíveis conseqüências. Até porque, tendo, ou não certeza, ela é quem terá que segurar a situação, enquanto transcorre uma ação na Justiça e até que saia o resultado de um exame de DNA. Talvez por isto, algumas estejam atirando recém-nascidos à lixeira, como é mostrado no noticiário dos jornais.

A mulher não é, mesmo, igual ao homem; e esse é um fato biológico. Mas, a mulher de baixa renda vive presa a uma armadilha que lhe é imposta pela falta de educação. É a falta de educação que a escraviza, que a deixa refém de romantismos baratos, de modismos onde o erotismo é explorado exaustivamente, inconsequentemente. A falta de educação mata! Sem educação, saúde e segurança são quimeras...