sábado, 3 de março de 2007

Odeio rótulos: esquerdismo... reacionarismo...

O debate, entre os que tratam a questão da criminalidade com um olhar mais amplo e os que entendem que com uma legislação mais dura o problema estaria resolvido, continua. E não se chegará a um termo. Procura-se confundir a discussão atribuindo-se um viés ideológico aos que são contrários à redução da maiorididade: são uns "esquerdistas" insensíveis ao sofrimento das vítimas de violência.

Em décadas passadas essa era uma acusação corrente. Quem quer que defendesse programas de caráter social era taxado de comunista, perseguido, preso, torturado e morto. Não importava o que estivesse em jogo, fosse a defesa de uma politica habitacional, de educação e de saúde, fosse no sentido de mostrar que um ambiente de trabalho seguro e salubre era garantia de melhor produtividade, não importava, tudo era jogado na mesma lata de lixo, com o mesmo rótulo: comunistas.

Se, naquelas décadas, tivessem sido acolhidas as idéias coerentes e lúcidas dos que defendiam, por exemplo, programas habitacionais para população de baixa renda, a reforma agrária e a educação de qualidade em escolas públicas, não enfrentariamos, agora, os resultados da favelização das grandes cidades brasileiras a partir da intensa migração campo-cidade.

O incrível é que não se tenha aprendido a lição. O muro de Berlim caiu, o império soviético desmembrou-se, a China comunista virou capitalista mas há pessoas que insistem no mesmo discurso, velho e carcomido, que opõe "esquerda x direita", "comunismo x capitalismo".

O capitalismo venceu mas, para se sustentar e progredir, terá que absorver lições trazidas pelo socialismo. Ou será que alguém acredita ser possível manter os padrões brasileiros de exploração do trabalho assalariado, de analfabetismo, de brutal concentração de renda, de ausência de serviços de saneamento básico capaz de infestar o meio urbano de epidemias das quais nem os ricos poderão escapar? Será que há quem acredite ser possível retornar aos velhos padrões de trabalho dos tempos da revolução industrial, na Inglaterra? Ou manter os padrões do servilismo da época medieval? E que, mantendo-se esses padrões, tudo ficaria assim, sem gerar consequências, todos acomodados na mais pacífica convivência, sendo suficiente construir mais prisões, mais prisões e mais prisões...

Penso que se, realmente, houver criaturas que acreditam poder ressuscitar o comunismo e criaturas, outras, que pensem poder ressuscitar padrões do coronelismo, dito de direita, essas pessoas precisam, urgentemente, rever seus conceitos, estudando História, antiga, medieval e contemporânea e, assim, quem sabe, se situar na realidade presente, em que a gigantesca população de pobres e miseráveis é capaz de forjar milhares de "homens-bomba", pessoas que não têm bons motivos para dar valor à própria vida ou à vida alheia. Afinal, o que elas teriam a perder?