sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Um universitário vale oito vezes mais que um estudante de 1º grau

Estive na clínica da Faculdade onde a minha filha cursa Odontologia. Olhando pelas portas semi-abertas dos consultórios, diviso salões com dezenas de boxes, devidamente equipados para proporcionar, ao aluno, a atividade ensino-aprendizagem e, ao paciente, o atendimento.

Quanto teriam custado aquelas instalações? Quanto custariam os serviços de manutenção dos equipamentos e de limpeza dos ambientes que permitem o pleno funcionamento? O preço da mensalidade, eu sei: R$1.500,00.

São centenas de universidades públicas, pelo Brasil afora, muitas com faculdades de Odontologia. Não vejo sentido nesse nosso modelo que investe tanto na educação superior, naturalmente mais cara, enquanto o ensino fundamental, obrigatório para todos os brasileiros, é tão carente de boas instalações, de recursos didáticos atrativos, de mais horas em atividades extra-classe.

O Brasil gasta cerca de R$2.488 por estudante, segundo estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico; é o que menos gasta, entre 34 países; e gasta mal, R$ 17.000 por estudante universitário e R$2.213 por estudante primário, o que representa uma distorção inexplicável, mas que dá bem a medida do elitismo imbecil que permeia a nossa cultura. É o único país em que essa distância de custos, entre os dois níveis de ensino, se mostra tão violenta.

O que seria mais importante para o país? Formar dentistas e médicos (médicos e dentistas que me perdoem) em universidades públicas ou manter as crianças em boas escolas, em turnos mais longos, longe dos apelos do mundo do crime e da violência?

Sem educação de qualidade, resta investir em presídios de segurança máxima. E em muitos hospitais. Afinal quem se tornaria capaz de prover cuidados a si mesmo se não receber a informação adequada ministrada por mestres bem preparados?

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Panaceia

Já vi pessoas afirmando que “...a educação virou panacéia, tida como remédio para todos os males...”
A educação é, sem dúvida, o remédio para todos os males. Quando o noticiário mostra esse número escandaloso, 28 bilhões nas contas dos custos com os acidentes de trânsito; quando vemos os números do subemprego, do trabalho infantil, do trabalho escravo, das reprovações nos exames da OAB, da eleição de parlamentares que devem à Justiça, quando vemos os números dos desatendidos no SUS, da violência nas escolas, da delinqüência juvenil ... Tudo passa pela educação.

Recentemente, soubemos de um prefeito e sua filha, mancomunados no mesmo crime: exploração do trabalho escravo. E pela TV, a toda a hora, notícias dos incêndios provocados por queimadas. E notícias de policiais que traficam, de juízes que vendem sentença...

Não, a educação não é panacéia. É um bem que, quem possui verdadeiramente, passa a detentor de respeito próprio. E de respeito aos outros que o torna incapaz de tamanhas irresponsabilidades para com a sociedade de que faz parte. Afinal, quem há de querer trabalhar contra si mesmo? A palavra bíblica de sabedoria proferida por Jesus, “Não façais ao próximo...” é compreendida em sua dimensão mais ampla: o que faço contra os outros, em última instância, volta-se contra mim. Não é moralismo; é uma lei de que não se pode fugir. Mas, o ignorante não a compreende, não a alcança. Acredita que, tocando fogo ali, está queimando o que é seu (seu?), e daí?

Há, também, os doentes. Mesmo para esses, a educação é remédio já que, pelo condicionamento, poderão obter um certo nível de controle quanto à satisfação egoística de suas vontades.

Esses “doentes”, é óbvio, precisariam de cerceamento. Em lugar disto, muitos ocupam cargos públicos e passam a ter poder sobre os outros! Aí, sim, há um problema potencializando a falta da educação; e que a educação, por si só, não resolverá. Pessoas sem formação, psiquicamente doentes, ocupando posições de mando na sociedade: policiais, juízes, parlamentares, ministros das altas cortes ... Esses “traidores” comprometem o esforço de todos os demais cidadãos. Merecem punição exemplar: a pena que caberia a qualquer outro deveria, para tais, ser em dobro. Afinal, que pena merece o policial que aluga, por R$50.000, a viatura policial? Ou o que informa data e hora da incursão policial na favela, pondo em risco a vida de colegas e da população local?

E quanto às “doenças”? Tratá-las, se de fato existirem, aproveitando, o espaço de tempo em que esses “traidores” estiverem fora do convívio social.

E quanto economizaria a nação, investindo mais em educação? Menos feridos a bala, menos doentes crônicos e mal-nutridos no SUS, menos mortes no trânsito e inválidos dependentes da Previdência, menos criminosos superlotando as cadeias, menos crianças abandonadas, mais controle da natalidade...

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Tristeza dupla

Mais um crime envolvendo extrema crueldade. Ao longo de uma semana, o Jornal “O Globo” publicou série de reportagens sobre o drama da população de periferia (favela e arredores) que vive sob à ditadura do tráfico. E, logo após, noticiou o seqüestro de um dos entrevistados, um líder comunitário cujo corpo foi encontrado, dias depois, esquartejado e carbonizado.

As suspeitas recaem sobre milicianos (milícias compostas por policiais) que haviam sido denunciados pelo líder morto por extorsão.

Há alguns meses escrevi, aqui, um desabafo (“Crueldade inata?”) para dizer que me recuso a aceitar a teoria dos que querem "condenar" seres humanos indefesos que crescem nas ruas, como vira-latas, sem acesso à educação. Afinal, se qualquer plantinha precisa de um mínimo trato para crescer saudável, o que dizer das crianças... É irracional esperar que o futuro, por si só, venha engendrar “gente boa” a partir dessa semeadura que se faz: desamparo, desamparo e desamparo. Não seria justo que a sociedade que desamparou e, portanto, forjou o delinqüente, simplesmente opte por “despachá-lo”.

É nesse meio, sob esse terror e crueldade, que as crianças da periferia do Rio de Janeiro estão crescendo: assistindo esquartejamento, que é a pena praticada nesse “estado paralelo”. Eu me lembro de uma matéria que li, há alguns anos, em que uma testemunha do caso Fernandinho Beira mar, narrou essa prática contra um jovem que se atrevera a namorar uma das mulheres do traficante: os restos do corpo foram colocados em um carrinho de mão que foi conduzido pela favela a fim de exemplar e intimidar os habitantes da comunidade.

Leio esse noticiário e lembro-me da minha infância, quando as mulheres da família, muito sabiamente, afastavam as crianças sempre que iam matar alguma criação... Hoje, enquanto os filhos da classe média assistem as mortes de seres humanos na TV, os da periferia não só assistem na TV... Mas são expostos, perseguidos, maltratados, seja pelo tráfico, pelas milícias e pela própria polícia.

Enquanto isto, Renam é absolvido. Luto: pela morte do líder comunitário que sequer mereceu a proteção que lhe devia o Estado, após a denúncia que fez. Luto: pela morte do Senado Federal.

domingo, 2 de setembro de 2007

O lixo e a "zelite"

O cineasta Felipe Lacerda, em entrevista à Revista da TV, "O Globo" deste final de semana, fala de seu documentário sobre Cuba, conta de sua estadia naquele país, das contradições surpreendentes que viu: para ter um telefone, é preciso pedir autorização ao Governo. Em compensação, até o lixeiro conhece Tolstoi, todos têm acesso à escola, aos médicos ... E eu, ainda ontem, ironizava Fidel, sugerindo que se estivesse à frente do império americano, com as restrições que impõe ao consumo, solucionaria metade dos problemas ambientais do planeta.

Mas, agora, falando sério: “liberdades amplas e irrestritas” (seja, lá, quanto ao que for, em que lugar for), seria um projeto viável?

Liberdade não pode ser sinônimo de esculhambação. O Consumo exagerado, a ingestão de alimentos à exaustão, logo convertida em esgoto, o desperdício da água tratada que todos nós, todos os dias, mandamos para o ralo ... toneladas de alimento atiradas ao lixo por falta de políticas de vigilância sanitária que disciplinem a doação de sobras ...

A “zelite” precisa, realmente, assumir o papel que lhe compete quanto às toneladas de lixo que gera. Brasília, por exemplo, é campeã. E, olha, não se trata do lixo moral, gente... Não é uma metáfora, ao estilo do Lula rsrsrsrsrsrs. É lixo mesmo. Brasília tem, também, a mais alta renda per capta do país. Na medida em que, por aqui, se ganha mais, o desperdício também é maior.

Segundo dados do Instituto Aqualung, “...Somente nos Estados Unidos são gerados 200 milhões de toneladas de lixo por ano, uma média de 725 quilos por habitante. Mesmo quando comparado com a capital do Brasil, que é quem mais desperdiça lixo, esse número é alarmante. Brasília produz 438 quilos por habitante por ano. Que dirá quando comparado aos países africanos, cuja média de consumo por habitante é 40 vezes menor do que a americana. ..."

Na cidade de São Paulo, as desigualdades sociais estão refletidas no lixo produzido (dados da COMLURB-RJ):

“As desigualdades que caracterizam São Paulo também se mostram na produção de lixo por habitante. Apesar de o paulistano jogar em média 890 gramas por dia - pouco mais de 3,5 litros -, a diferença entre periferia e bairros centrais chega a três vezes. Enquanto o morador de Guaianases despeja cerca de 0,5 quilo num dia, quem vive na região da Subprefeitura de Pinheiros joga 1,5 quilo de resíduos. Essas referências foram usadas pela Prefeitura na primeira distribuição de boletos da taxa de lixo, com sugestões da produção média e do valor a ser pago.”

Portanto, a “zelite”, incluindo o Presidente Lula e a turma do PT (que não se assumem como tal mas, de fato, o são) precisa se mancar, usar a educação que recebeu, em proveito próprio e dos outros. E eu também me incluo, sem hipocrisias.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Liberdades não tão amplas...

A obesidade do americano revela o quanto vai mal de saúde aquela nação tão próspera! Carências materiais podem não ser tão devastadoras para a saúde global quanto é a abundância, o exagero no consumo. Em entrevista à Revista Veja, em fevereiro de 2006, o Demógrafo americano Paulo Ehrlich, é bastante alarmista na avaliação que faz desse assunto:

“ Com o cenário atual, o mundo pode até suportar durante algum tempo o padrão de vida dos americanos. A chegada de bilhões de chineses e indianos a esse mesmo nível de consumo levará a conseqüências devastadoras para o meio ambiente e para a qualidade da vida na Terra. Será um teste aos nossos limites. ... os governos devem intervir para limitar a venda de produtos cujo consumo excessivo leve a prejuízos para o meio ambiente. Eu começaria pelo aumento dos impostos sobre a gasolina e os itens produzidos à base de petróleo. Impor alguma regulamentação nesse campo é uma questão de sobrevivência da espécie. Em segundo lugar, é preciso que os governos também estimulem os cidadãos a promover uma mudança de hábitos. A redução do desperdício de recursos naturais no dia-a-dia seria um bom começo. Há números impressionantes nesse campo. Em alguns países, mais da metade da água disponível é jogada pelo ralo...”

Penso, imediatamente, no povo cubano e sua cota diária de “ração”, seu acesso restritíssimo ao que quer que se denomine “bens de consumo”. Que tal colocar o Fidel em Manhattan? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Quando relembro o modo como criei os meus filhos, muita sobriedade, muita austeridade, ditada pela necessidade e por informações a que fui tendo acesso na medida em que lutava com doenças alérgicas que acometia dois deles... Que bom que tenha sido obrigada a conviver com certas restrições. Enlatados e refrigerantes nunca freqüentaram a minha dispensa. Iogurtes? Uma vez por mês, nas compras mensais, para acomodar as cobranças deles. Embutidos? Nunca!

Há 15, 20 anos, não havia espaço, como agora, para a discussão dessas questões ambientais e para essa visão de saúde. E qualquer tentativa nessa direção, qualquer discurso era rechaçado, ridicularizado... Quanta coisa mudou em tão pouco tempo! Apesar do alarmismo do Dr. Ehrlich, há muito o que comemorar.

sábado, 25 de agosto de 2007

Comer pouco faz bem à saúde! E o planeta agradece.

Apesar de escolher esse tema, de modo exclusivo, para tratar em um blog, não sou uma hipocondríaca! Muito ao contrário. É que sempre me espantou ver os caminhos que tomava a saúde, com um arsenal de remédios e exames, desde quando meus filhos eram ainda crianças e eu freqüentava os pediatras para monitorar o desenvolvimento deles.

Mas, vejo com satisfação, que apesar dos dogmas dessa ciência, há melhoras e já se reconhece o poder de outros efeitos, além dos medicamentos, sobre o corpo. A nutrição avança e, se a classe médica permitir, o nutricionista desempenhará papel importante na manutenção da saúde.

Resultados de pesquisas freqüentam o noticiário, a cada semana, alguns animadores, outros remetendo a dias sombrios... Chama a atenção esse último, que afirma que se alimentar de forma moderada, comendo pouco, pode prolongar a vida.

De imediato, lembrei-me de criaturas que ganharam as manchetes nacionais por afirmar ser possível sobreviver alimentando-se de luz! Mas, quem freqüenta, sempre, as minhas lembranças é uma excelente professora de História Antiga e Medieval, dos meus tempos de universitária, que nos falava dos nossos ancestrais neolíticos, que se envenenavam enquanto aprendiam o que era próprio ou impróprio para a alimentação.

Ancestrais neolíticos???!!! Até agora, continuamos no processo de aprender; aliás, mal começamos. Ainda ridicularizamos os que são mais seletivos e cuidadosos com o que ingerem, ainda insistimos na idéia de que, estando doentes, devemos comer mesmo que a ingestão cause repulsa!

E, não fossem suficientes os danos à saúde, quanto mais comemos, mais lixo produzimos, mais poluímos o planeta.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Paciente ou Agente?

Acredito, completamente, que sou um ser dotado de uma alma, que as aflições do corpo têm origem alhures, que as minhas maiores aquisições, as que realmente importam, são as que passam a fazer parte desse meu eu mais remoto. Nada a ver com o corpo, um fantástico instrumento, um veículo sem o qual esse eu remoto não poderia se manifestar, é verdade; mas, ainda assim, não deveria ser visto além do que é realmente, um veículo.

Os atletas participantes das Para-olimpíadas nos deram amostra disto. É a chama da vida que os sustenta que torna possível que realizem as façanhas que assistimos. E também os nossos atletas “normais”, fazendo do corpo o serviçal que ele, de fato, deve ser, obediente ao comando da vontade de quem o habita.

Daí, o meu inconformismo diante do ainda persistente tradicionalismo das ciências da saúde. Principalmente com uma realidade como é a nossa, onde o Sistema Único de Saúde não consegue cumprir o papel constitucional de prover assistência a todos os brasileiros. Não seria mais barato orientar as pessoas para os cuidados básicos de saúde? Não seria mais barato reconhecer a inteligência de cada um, falar à inteligência de cada um, atenciosamente? Mas, o que se vê, nas rotinas de atendimento? Um médico postado como se pudesse ter todas as respostas, como se pudesse ter a cura para todos os males, receitando, receitando e receitando. Ouvir? Não há tempo.

O paciente, na verdade não o é; mas é, de verdade, o agente da sua própria saúde. A palavra paciente deveria ser abolida do vocabulário médico. A educação, desde os primeiros anos de vida, deveria estar voltada para a conquista de uma maior autonomia das pessoas em relação à sua própria saúde. Principalmente considerando esses novos tempos de internet e google, que permitem a qualquer leigo decifrar os diagnósticos e as prescrições médicas mais misteriosas.

Desde que o “paciente” tenha sido mobilizado, pela educação, para se tornar um agente que use essas conquistas modernas com o melhor proveito... Desde que o “PC antipedagógico”, citado pela Giulia, não se constitua em obstáculo ao aprendizado, convertido em passatempo com “viagens” ao orkut, ao site da Barbie, sem orientação ao educando e sem treinamento ao professor ... Desde que se leve a educação a sério ...

domingo, 19 de agosto de 2007

Capeta? Tô Fora!

Li, agora mesmo, no “O Globo”, as conclusões do cientista social, Bernardo Sorj, quanto aos efeitos da Internet na Política brasileira: blogs e sites reforçam as crenças das pessoas que tendem a manter suas opiniões e se reúnem, no meio virtual, segundo padrões preexistentes. Preconceitos e estereótipos?

Segundo essa avaliação, quem lê José Dirceu não lê o blog do Cesar Maia, etc., etc. Quem lê o Reinaldo Azevedo, não lê o pensamento dito de esquerda?? Eu leio. Mas vejo que, efetivamente, muitos se comportam como os adeptos de religiões onde são induzidos, pelos próprios líderes espirituais, a não freqüentar outros credos, que seriam coisa do demo.

Minha filha contou-me sobre conhecidos seus que foram expulsos da Igreja Sara Nossa Terra porque desobedeceram a ordem de não ir a uma outra igreja de denominação evangélica. Fora do espaço das igrejas, livre do medo de ir para o inferno rsrsrsrsrs, por que agiríamos de maneira tão auto-limitadora? Que falsos líderes pretendam manipular e subjugar, é compreensível. Mas, por que tantos aderem assim, tão prontamente?

No meu último post, lá se vão cinco meses, registrei a minha estranheza declarando que “odeio rótulos”. A moda, hoje, é taxar de direitista e reacionário todos os que criticam o Governo Lula, cujo lema, ameaçador, parece equivaler ao de certas denominações evangélicas: “...ou você congrega aqui ou está com o capeta!”

Uma educação bem conduzida propicia a liberdade de pensar; porque a liberdade de pensar, de descobrir e de formar conceitos próprios é um fator de saúde que vai muito além do corpo.

sábado, 3 de março de 2007

Odeio rótulos: esquerdismo... reacionarismo...

O debate, entre os que tratam a questão da criminalidade com um olhar mais amplo e os que entendem que com uma legislação mais dura o problema estaria resolvido, continua. E não se chegará a um termo. Procura-se confundir a discussão atribuindo-se um viés ideológico aos que são contrários à redução da maiorididade: são uns "esquerdistas" insensíveis ao sofrimento das vítimas de violência.

Em décadas passadas essa era uma acusação corrente. Quem quer que defendesse programas de caráter social era taxado de comunista, perseguido, preso, torturado e morto. Não importava o que estivesse em jogo, fosse a defesa de uma politica habitacional, de educação e de saúde, fosse no sentido de mostrar que um ambiente de trabalho seguro e salubre era garantia de melhor produtividade, não importava, tudo era jogado na mesma lata de lixo, com o mesmo rótulo: comunistas.

Se, naquelas décadas, tivessem sido acolhidas as idéias coerentes e lúcidas dos que defendiam, por exemplo, programas habitacionais para população de baixa renda, a reforma agrária e a educação de qualidade em escolas públicas, não enfrentariamos, agora, os resultados da favelização das grandes cidades brasileiras a partir da intensa migração campo-cidade.

O incrível é que não se tenha aprendido a lição. O muro de Berlim caiu, o império soviético desmembrou-se, a China comunista virou capitalista mas há pessoas que insistem no mesmo discurso, velho e carcomido, que opõe "esquerda x direita", "comunismo x capitalismo".

O capitalismo venceu mas, para se sustentar e progredir, terá que absorver lições trazidas pelo socialismo. Ou será que alguém acredita ser possível manter os padrões brasileiros de exploração do trabalho assalariado, de analfabetismo, de brutal concentração de renda, de ausência de serviços de saneamento básico capaz de infestar o meio urbano de epidemias das quais nem os ricos poderão escapar? Será que há quem acredite ser possível retornar aos velhos padrões de trabalho dos tempos da revolução industrial, na Inglaterra? Ou manter os padrões do servilismo da época medieval? E que, mantendo-se esses padrões, tudo ficaria assim, sem gerar consequências, todos acomodados na mais pacífica convivência, sendo suficiente construir mais prisões, mais prisões e mais prisões...

Penso que se, realmente, houver criaturas que acreditam poder ressuscitar o comunismo e criaturas, outras, que pensem poder ressuscitar padrões do coronelismo, dito de direita, essas pessoas precisam, urgentemente, rever seus conceitos, estudando História, antiga, medieval e contemporânea e, assim, quem sabe, se situar na realidade presente, em que a gigantesca população de pobres e miseráveis é capaz de forjar milhares de "homens-bomba", pessoas que não têm bons motivos para dar valor à própria vida ou à vida alheia. Afinal, o que elas teriam a perder?

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Crueldade inata? Bondade inata?

Logo pela manhã, eu e o meu neto, de 5 anos, avistamos uma lagartixa minúscula dentro de casa. Fui retirá-la sob os gritos do meu neto que pedia para não matá-la mas que, ao mesmo tempo, queria vê-la longe. Consegui apanhar o bichinho envolvendo-o em um pedaço de papel e atirando-o pela janela. A essa altura, lágrimas rolavam pelo rosto do menino certo de que a lagartixa não escaparia viva da queda. Eu e a minha filha procuramos consolá-lo e, logo, ele estava mais calmo. E é sempre assim, desde que ele era, ainda, mais novinho, esse cuidado com os seres vivos. Certa vez, passava na TV uma cena de tristeza e vi que ele se comovia, embora nem soubesse falar. Passamos a ter mais cautela porque percebemos que ele parecia entender conquanto não pudesse, ainda, se expressar oralmente.

Nos últimos dias, quando muitos se poêm a discutir sobre deliquência juvenil, há os que se precipitam em afirmar que, aos 16, o ser humano já teria discernimento suficiente que lhe permitisse separar o joio do trigo, distinguir bem e mal.

Eu não tenho dúvidas de que, desde muito cedo, temos o tal discernimento, experimentamos sentimentos e sabemos quando há algum tipo de ameaça ao nosso bem estar e ao nosso ambiente. Não é preciso ler tratados de Psicologia para perceber isto, quando já se criou quatro filhos, quando se conviveu com crianças. Mas esse discernimento preliminar não dispensa a necessidade de sermos moldados, dia a dia. Se assim não fosse, nem haveria sentido em se discutir propostas pedagógicas, medidas educacionais. Se o ser humano nascesse bom ou cruel, tudo estaria definido, de antemão, tudo estaria entregue à fatalidade, a um destino que condenou a criatura antes mesmo que ela nascesse. Há o temperamento, a personalidade de cada um, mais egoísta, mais altruísta, mais contido, mais extrovertido... E essas características poderão ser acentuadas pela educação, pelo ambiente.

Entretanto, o fato de sermos dotados, desde cedo, de um certo grau de discernimento que permite que nos emocionemos com cenas de tristeza que mal podemos compreender, não significa estar apto para aceitar frustrações sem reagir com violência. Irrite uma criança tirando-lhe o brinquedo de que gosta e veja a reação. Mas ninguém dirá que essa criança é cruel, tem má índole, etc., etc.

Mais tarde, com a incompetência da sociedade para formar e educar, é que serão proferidas as maldições, as profecias invertidas: sempre foi assim, sempre teve má índole, etc.

Assim, também, o menor adolescente, embora dotado de discernimento, mas com hormônios em ebulição e altas doses de testosterona na corrente sanguínea, será, por vezes, incapaz de fazer a escolha certa; ainda não tem repertório suficiente para resistir às pressões do ambiente. A irresponsabilidade, o espírito de aventura e, também a prática de atos de crueldade são típicas dos muito jovens. Existem certos tipos de brincadeiras, entre elas o trote, a humilhação de colegas por características físicas, o bullying, que são manifestações de crueldade explícita, inclusive danosas aos que são alvo delas. Então, essas condições, que fazem parte do processo de crescimento de qualquer ser humano, tornam vulnerável o jovem que vive essa fase. Pais atentos percebem, interferem, corrigem, assim como as escolas. Mas, se estiver por conta de si mesmo, será dificil que o insipiente discernimento do adolescente venha a produzir somente resultados compatíveis com o convívio social.

A bondade ou a crueldade são como o caráter, o senso de responsabilidade e outras virtudes e vícios; para desenvolvê-los, ou não, precisamos do concurso da educação contra  mensagens negativas que recebemos ao longo da vida. Se os adultos são manipuláveis quanto mais as crianças que crescem nas ruas, em completo desamparo.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Duas Farmácias em cada esquina: quem precisa?

Tenho resistido à vacina contra à gripe. Por duas razões, raramene gripo e vi colegas extremamente jovens cairem de cama depois da vacina. Então, achei melhor escapulir. Afinal, para que eu iria me sujeitar a desenvolver um estado gripal se eu já me encontro, naturalmente, imunizada? Ficar doente de graça?
Nos últimos cinco meses fui pega três vezes; mas, nada que não fosse superado em 48 horas. Portanto, continuo resistindo. Não uso, sequer, os "tais que tais" exaustivamente recomendados nas propagandas. Permito-me somente, se o desconforto estiver muito intenso, ingerir qualquer deles, ao deitar, para dormir melhor.
Não gosto de medicamentos. Os proprietários de farmácias, se dependessem do meu padrão de consumo, estariam falidos. Resisto, também, a dores de cabeça, comuns em nós mulheres porque aprendi que elas são passageiras, fruto de desconforto momentâneo, seja por stress, por um alimento menos tolerado, ou por carência de sono. Nunca persistem. Mas, se persistirem, se houver alarma, não iria à farmácia, mas consultaria um médico. Ainda que a contragosto pois, para falar a verdade, não vejo com bons olhos a forma como a medicina é praticada.
Sou adepta dos florais, da acupuntura, da cromoterapia ... Sou uma rekiana convicta depois de ter cursado os níveis I e II de Reiki. Lamento que essas formas de tratamento não estejam disponíveis para todos, com exceção da acupuntura que começa a vencer as barreiras que foram longamente colocadas, mais pelo preconceito do que por motivações verdadeiramente científicas. Aguardemos e, não demora, veremos os outros métodos terapêuticos sendo consagrados.
Uma farmácia em cada esquina, pode, terapia floral, não pode ... Onde a lógica?

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Resiliência. O que é isto?

Tanto tempo sem postar neste espaço! E o tema tem tudo a ver com as minhas mais caras aspirações: educação e saúde para todos, mas numa visão holística. A educação em primeiro lugar, claro; quanto mais bem informado, ciente de si mesmo e de suas limitações é o ser, maior é a sensação de bem estar, maiores as posssibilidades de correção de rumo, quando algo não vai bem. A tal "resiliência", ou a capacidade de "dar a volta por cima", termo usado em Física e, agora, aplicado à natureza humana, como lembrou, hoje, Zuenir Ventura, em "O Globo", tem tudo a ver com a formação do ser. Somos o que comemos? Não, somos o que pensamos. Pensar direito é fundamental e explica porque uns, privilegiadamente, têm mais "resiliência" que outros.