segunda-feira, 17 de julho de 2006

AUTISTAS TRABALHANDO NA “SAÚDE”

No “O Globo” deste final de semana, uma reportagem sobre a omissão do Estado junto aos autistas e seus familiares causa revolta e perplexidade. Os serviços públicos de saúde não atendem esses brasileiros. Uma das mães, uma doméstica, largou o emprego e passou a viver nas ruas com o filho doente. Foi socorrida por uma advogada e agora luta na Justiça para garantir o tratamento do filho. Na ausência de tratamento, os autistas têm crises freqüentes. Percebem como modificação em suas rotinas a introdução de qualquer elemento novo em seu ambiente que os leva a quebrar objetos e a agredir familiares.

Aí eu me pergunto onde está o profissionalismo, e também o sentimento, do pessoal de saúde que rejeitou atendimento a essa e a outras mães em idêntica situação. Médicos, enfermeiros, gerentes, diretores de unidades de saúde que, necessariamente, têm tomado conhecimento desses fatos... Nada fizeram! Por que tamanho pouco caso diante de tanto sofrimento? Essas pessoas poderiam tentar encaminhar a questão aos seus superiores, provocar a discussão, denunciar ao Conselho Federal de Medicina, ao Ministério Público...

Por que esse silêncio? Receberam longa formação, fazem parte de uma camada privilegiada que muito recebeu da vida, têm obrigação de retribuir, quanto mais se são profissionais diretamente em contato com esse drama.

Eles, sim, são os autistas, encerrados em seu mundo particular, rejeitando quaisquer alterações em suas rotinas, omitindo-se, talvez por covardia; para não por em risco posições conquistadas, não se insurgem, não denunciam, cumprem ordens cegamente. Seria esta a explicação?